Vocês já perceberam o quanto as pessoas íntimas a nós acabam por receber os nossos maiores defeitos?
Nos relacionamentos afetivos por exemplo. Quando estamos paquerando ou saindo com alguém, nos controlamos, nos esforçamos para parecer o melhor possível e, de fato, ficamos o melhor possível. Somos pacientes, afetuosos, surpreendentes até. As vezes estamos chateados mas procuramos não chatear a pessoas com problemas pequenos e se esforçando para deixá-los para lá, deixamos mesmo os problemas para lá. Somos cavalheiros, abrimos as portas, pagamos as contas (isso para os homens, claro). Somos charmosos, sexy, atentos ao jogo da sedução.
E com a pessoa que agora você ama? Que está ao seu lado? Que pretende ficar ao seu lado? Não somos mais pacientes, cavalheiros, charmosos, sexy, atentos. Acabamos por descarregar neles nossas frustações, incômodos, problemas, dúvidas, chateações.
Estive observando uma pessoa próxima que namorava a um tempo. Era reclusa, estudava para concurso, sem querer sair, ciumenta, possessiva, mal humorada. Aí o namorado dela acaba por não mais suportar e... ela passa a sair constantemente, volta a ligar para as amigas, fica mais engraçada, mais simpática e com os novos parceiros, infinitamente mais interessante.
Sei que esse é um processo mais natural do que se imagina. E é um pouco natural também não conseguir ser uma "pluma" de felicidade com alguém que convive mais tempo conosco. Mas precisamos ter cuidado. O que me parece é que quando entramos na intimidade "dormimos" e perdemos a atenção com o outro.
Quando eu me vi nesse ciclo me incomodei bastante. Quando me vi descarregando coisas na minha mulher, parei, lembrei das minhas antigas "alguma coisa" (ficantes, paqueras, etc.) e pensei que não seria justo elas terem recebido presentes mais atentos do que os que destino a pessoa bem perto de mim. Puxa, fiquei muito incomodado mesmo com isso. E procurei mudar.
Hoje, tento as vezes, colocar minha mulher nesse papel vez por outra. Tento agir com ela como se estivéssemos nos paquerando, nos conhecendo. Tento preservá-la um pouco de mim e selecionar-me na melhor intenção possível para ela. Porque é para ela que quero destinar o meu melhor.
Eu não consigo sempre, isso é óbvio. Mas eu tento, bastante.