terça-feira, 29 de junho de 2010

O pessimista

Nesse momento de união através do futebol uma figura entra em destaque: o pessimista. Acho-o bastante interessante. Um ser suicida de convívio natural e cego consigo mesmo. Explico.

Uma vez em minha presença dois amigos discutiam, um crente bastante lúcido com um ateu fanático (estranho, né?). Determinado momento meu amigo crente saiu com a seguinte conclusão definitiva:

"Pense bem, ele disse, se eu estiver certo e você estiver errado, eu irei para o céu e você para o inferno. Se eu estiver errado e você estiver certo iremos os dois virar pó, não é? Ou seja, de um modo ou de outro eu não perco tanto".

Corretíssimo.

Assim são os pessimistas: de um modo ou de outro, eles perdem.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Em época de Copa

Todas as vezes que vou almoçar com o meu pai e falamos de futebol ele critica bastante os salários milionários dos jogadores e o valor exacerbado que o nosso país dá para o esporte de Pelé.

Eu até entendo, mas vejo de outra forma, e sei que o famoso "Pão e Circo" lá da Roma antiga tem uma função importante a cumprir.

Um amigo uma vez filosofando com alguma cervejas perto do reveillon concluiu: "ainda bem que existe essa coisa de reveillon. Imagina se o tempo corresse sem um marco importante para tomarmos um novo gás. Ia ser uma depressão tremenda".

Minha mulher, outra vez, voltando do trabalho questionava a rotina: "a rotina as vezes torna a vida sem sentido. Você dorme, acorda, come, trabalha, dorme... qual o sentido disso?"

Pois bem, nesses dois pontos, creio eu, que o futebol (e outra coisas) entram: para dar sentido, ou ainda melhor, para dar ritmo a nossa vida.

São emoções, marcos, pontos de referência. Claro que o futebol é apenas uma de uma série de possibilidades, mas é uma possibilidade bastante popular na nossa tribo, e porque não curti-la?

Li uma matéria um tempo atrás sobre a eficiência econômica e democrática da Noruega. Uma maravilha. A taxa de homicídio, dizia a matéria, era de 50 mortes... ao ano (puxa, incrível isso). No entanto, um país tão célebre, amarga uma taxa de 500 mortes ao ano... de suicídios. Lá, deve faltar ritmo.

Concordo com o meu pai quando diz que seremos campeões e a educação vai continuar ruim no país, políticos vão continuar roubando, pessoas morrendo e tudo o mais. Mas ressalto que "apesar" disso vamos ter felicidades, emoções, incentivo, esperança e fôlego para continuar em frente.

Eu estou curtindo bastante a Copa do Mundo, me emocionando a beça, torcendo horrores.

E pergunto: porque não?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Uma experiência

- Não sei o que não tem, mas me parece que tudo está um pouco errado, fora do lugar. Uma sensação de fracasso, de correr sem sair do lugar. O semáforo fecha na hora equivocada, o rapaz da bicicleta cai pra cima do carro, a voz sai semitonada, a barriga infla, o corpo se flacida, o olhar se perde, a voz, rouca.

- Calma meu amor, você é muito bom no que faz. Todos tem um dia ruim. É normal.

- Sabe, quando estava vindo te buscar, com esse incômodo, pensei em entender ele melhor. Puxa, tudo está como estava ontem e ontem parecia bem melhor. Acho que algo dentro de mim que saiu do canto certo.

- Entendo...

- Acho melhor não oferecer resistência.

- Fiquei confusa agora.

- Ao invés de amenizar o sentimento e dizer que esse medo ou incômodo é errado, vou deixar essa insatisfação surgir a vontade. Pensa comigo, se ele estiver todo correto em nascer em mim, esse sentimento? Se eu de fato estiver falhando, o sinal me atrapalhando, a voz, rouca? O que de pior acontece? Se eu não for perfeito? O que de tão ruim pode me acontecer?

- Hum, acho que você não será o mais badalado, ou o mais elogiado. Falhará as vezes e acertará outras. Não será o primeiro.

- Mas não morrerei por isso?

- Sem dúvida, claro que não morrerá. Nem será execrado. Acho que só não irá suprir todas as expectativas.

- Isso, exatamente isso.

- Interessante como você resolve os problemas.

- Não os resolvo.

- Isso, você não os resolve. Engraçado...

- Sei lá, to me sentindo melhor agora, o sinal parece mais colorido.

- É verde besta, acelera o carro.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Você quer dizer o que mesmo?

Uma obra de arte não é uma habilidade somente.

Quando um artista para e resolve produzir ele precisa ter algo dentro de si prestes a explodir, algo a dizer. A habilidade motora ou estética é o momento posterior a essa percepção.

- Tudo bem, pensa o dito cujo, algo dentro de mim está prestes a explodir. Explodir?, pergunta o danado, mas explodir como?

A partir desse momento, sim, habilidade é necessária.

São dois problemas diferentes, mas similares: o conteúdo sem forma e a forma sem conteúdo. Um é o artista preguiçoso, o outro, o artista forçado. A idéia é unir os dois.




quinta-feira, 3 de junho de 2010

Intimidade ou íntima maldade?

Vocês já perceberam o quanto as pessoas íntimas a nós acabam por receber os nossos maiores defeitos?

Nos relacionamentos afetivos por exemplo. Quando estamos paquerando ou saindo com alguém, nos controlamos, nos esforçamos para parecer o melhor possível e, de fato, ficamos o melhor possível. Somos pacientes, afetuosos, surpreendentes até. As vezes estamos chateados mas procuramos não chatear a pessoas com problemas pequenos e se esforçando para deixá-los para lá, deixamos mesmo os problemas para lá. Somos cavalheiros, abrimos as portas, pagamos as contas (isso para os homens, claro). Somos charmosos, sexy, atentos ao jogo da sedução.

E com a pessoa que agora você ama? Que está ao seu lado? Que pretende ficar ao seu lado? Não somos mais pacientes, cavalheiros, charmosos, sexy, atentos. Acabamos por descarregar neles nossas frustações, incômodos, problemas, dúvidas, chateações.

Estive observando uma pessoa próxima que namorava a um tempo. Era reclusa, estudava para concurso, sem querer sair, ciumenta, possessiva, mal humorada. Aí o namorado dela acaba por não mais suportar e... ela passa a sair constantemente, volta a ligar para as amigas, fica mais engraçada, mais simpática e com os novos parceiros, infinitamente mais interessante.

Sei que esse é um processo mais natural do que se imagina. E é um pouco natural também não conseguir ser uma "pluma" de felicidade com alguém que convive mais tempo conosco. Mas precisamos ter cuidado. O que me parece é que quando entramos na intimidade "dormimos" e perdemos a atenção com o outro.

Quando eu me vi nesse ciclo me incomodei bastante. Quando me vi descarregando coisas na minha mulher, parei, lembrei das minhas antigas "alguma coisa" (ficantes, paqueras, etc.) e pensei que não seria justo elas terem recebido presentes mais atentos do que os que destino a pessoa bem perto de mim. Puxa, fiquei muito incomodado mesmo com isso. E procurei mudar.

Hoje, tento as vezes, colocar minha mulher nesse papel vez por outra. Tento agir com ela como se estivéssemos nos paquerando, nos conhecendo. Tento preservá-la um pouco de mim e selecionar-me na melhor intenção possível para ela. Porque é para ela que quero destinar o meu melhor.

Eu não consigo sempre, isso é óbvio. Mas eu tento, bastante.