terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para além da curva da estrada

Para além da curva da Estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo.
E talvez apenas a continuação da estrada.

Não sei nem pergunto.

Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.

De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.

...

Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.


Fernando Pessoa


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A arte de ouvir

Oi gente, aqui vai o texto dessa segunda. Estou tentando abrir toda semana com um texto, ou uma imagem ou algo do tipo que nos faça pensar um pouco (um pouco somente) para começarmos a semana acordados, pensativos e animados.

Boa semana a todos:




A arte de ouvir



O sábio Saadi de Shiraz caminhava por uma rua com seu discípulo, quando viu um homem tentando fazer com que sua mula andasse. Como o animal recusava-se a sair do lugar, o homem começou a insulta-lo com as piores palavras que conhecia.


- Não sejas tolo – disse Saad de Shiraz. – O asno jamais aprenderá tua linguagem. O melhor será que te acalmes, e aprendas a linguagem dele.


E afastando-se, comentou com o discípulo:


- Antes de entrar numa briga com um asno, pensa bem na cena que acabaste de ver.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Matéria de poesia

Queria colocar o áudio dessa poesia aqui no Blog. No entanto, só consigo postar vídeo. Assim, acabei sendo obrigado a tentar fazer um vídeo - não sou muito bom nisso, mas deu pro gasto. 

Eis uma bela poesia do mestre Manoel de Barros.

Aproveitem




ps- a maioria das fotos é de arquivo pessoal, com excessão da foto de Manoel no início e do poeta Gentileza.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Quem larga a banana?

Mais um texto para começarmos a semana inspirados, questionados e cheios de energia:


Onde o macaco coloca a mão

- É estranha a expressão popular: "macaco velho não bota a mão em cumbuca". Mas tem sua lógica. Na Índia, os caçadores abrem um pequeno buraco num coco, colocam uma banana dentro, e enterram-no. O macaco se aproxima, pega a banana, mas não consegue tira-la - porque sua mão fechada não passa pela abertura. Ao invés largar a fruta, o macaco fica lutando contra o impossível, até ser agarrado.
O mesmo se passa em nossas vidas. A necessidade de ter determinada coisa – as vezes algo pequeno e inútil - faz com que terminemos prisioneiros dela.




quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dá pra votar nele?

Uma coisa que me incomoda em época de eleição são pedidos de voto sem justificativa plausível.

Tudo bem, todos tem um amigo, primo, cunhado, tio, chefe, amigo do primo, tio do cunhado, chefe do chefe e por aí vai. Entendo isso e respeito, mas o danado não é nada meu e voto não é copo de água.

Se alguém quer pedir voto, explique-me o motivo do danado do candidato ser candidato ao danado do cargo.

Na eleição passada uma amiga pediu votos para uma deputada em questão. Aí eu perguntei: porque? Porque ela é massa pô. Bem, no final das contas o tiro sai pela culatra e eu criei um abuso da pessoa em questão.

Eu gosto um pouco de política, não sou fanático e sou todo ouvidos. Mas me apresentem um projeto, uma trajetória, uma justificativa ou façam pelo menos como um mendigo que me parou na Avenida Paulista em São Paulo um tempo atrás: "Meu, não vou mentir, me dá 1 real pra eu comprar uma pinga?"

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma pitada de sal

O problema de tudo são os excessos, o exagero.
Até o que achamos ruim, em pouca quantidade, nos alimentam, serve como uma pitada de sal.

Um pouco de inveja alimenta a vontade de progredir e o desejo de alcançar sucesso parecido.

Um pouco de raiva é necessário para perceber que você também tem esses sentimentos e ter mais compreensão com os outros.

Um pouco de medo é necessário para que exista proteção.

Um pouco de violência é necessário para que você aprenda a definir suas fronteiras (e para que você se veja vivo).

Um pouco de arrogância para que você se alimente de si e também conheça suas qualidades.

Um pouco de mesquinharia valoriza a doação.

Um pouco de saudade valoriza o abraço.

Um pouco de arrependimento ensina a ter mais cuidado.

Um pouco de burrice alimenta a vontade de aprender.

Um pouco de mancadas alimenta o perdão.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O único culpado

Um pequeno texto para começar a semana inspirado:


O único culpado

O sábio rei Weng pediu para visitar a prisão de seu palácio. E começou a escutar as queixas dos presos.

- Sou inocente - dizia um acusado de homicídio. - Vim para cá porque quis assustar minha mulher, e sem querer a matei.

- Me acusaram de suborno - dizia outro. - Mas tudo que fiz foi aceitar um presente que me ofereciam.

Todos os presos clamaram inocência ao rei Weng.
Até que um deles, um rapaz de pouco mais de vinte anos, disse:

- Sou culpado. Feri meu irmão numa briga e mereço o castigo. Este lugar me faz refletir sobre o mal que causei.

- Expulsem este criminoso da prisão imediatamente! - gritou o rei Weng. - Com tantos inocentes aqui, ele terminará por corrompe-los!



Boa semana a todos.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Passarás

Não importa que a matéria seja bem construída, que a filosofia seja linda, que os preceitos daquele invólucro encham os olhos, que a lógica passeie e se encaixe feito água, que a motivação primeira seja a mesma motivação que te empurrou ali, que o motivo seja o motivo pela qual se vive... quer dizer, até importa.

Mas por fim o que recebemos é o olhar do professor. É como ele vê e como ele construiu aquilo dentro de si. As vezes pra melhor, as vezes pra pior, as vezes para lugar algum.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O cavalo morto

Um homem enganou dois meninos e os vendeu um cavalo morto, mortinho da silva. Com o dinheiro em mãos, mostrou o cavalo:

- Mas senhor, o cavalo está morto, reclamou um dos garotos.

- Bem, não acertamos nada sobre ele estar ou não vivo, não foi?

O outro garoto, pensativo, confirmou com a cabeça e com a ajuda de um pequeno carro levaram o cavalo morto embora. Dias depois, o tal homem encontra os dois garotos felizes da vida comprando de tudo na feira.

- Eita, até parece que aquele cavalo morto deu lucro a vocês, comentou com riso entre os dentes.

- E deu, deu sim.

- Como assim?, perguntou um pouco assustado.

- É que nos rifamos o cavalo e várias pessoas compraram a rifa. Ganhamos muito dinheiro, respondeu o pensativo.

- Rifaram um cavalo morto? Mas o vencedor não ficou puto?

- Ficou, ficou sim, disse o rapaz. E nos devolvemos o valor da rifa dele em dobro, explicou quase as gargalhadas.



Amigos, quando vocês ligarem para o telemarketing das empresas - principalmente as de telefonia (com a Oi no topo da pirâmide) não tenham dúvida que estão comprando a rifa de um cavalo morto. Se após muito trabalho conseguirmos provar que fomos enganados, roubados, ludibriados, feitos de palhaço e todo o resto, iremos receber o valor da rifa em dobro. É assim que a nossa justiça funciona, mensurando em quanto fomos financeiramente afetados, somente. 

Enquanto isso permanecer continuará sendo imensamente lucrativo rifar o cavalo morto.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Para um amigo

É incrível como as músicas escritas sobre uma situação se encaixam em tantas outras. Um compositor que escreve sobre sua amada pode ser lido por tantas óticas diferentes. Isso traz uma riqueza danada as canções.

Essa música dedico a um amigo.


Não me arrependo

Caetano Veloso

Composição: Caetano Veloso
Eu não me arrependo de você
Cê não me devia maldizer assim
Vi você crescer
Fiz você crescer
Vi cê me fazer crescer também
Prá além de mim...
Não, nada irá neste mundo
Apagar o desenho que temos aqui
Nem o maior dos seus erros
Meus erros, remorsos
O farão sumir..
Vejo essas novas pessoas
Que nós engendramos em nós
E de nós
Nada, nem que a gente morra
Desmente o que agora
Chega à minha voz
Nada, nem que a gente morra
Desmente o que agora
Chega à minha voz...


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Texto da semana

Um pequeno texto para começar bem a semana:


"Reconstruindo o mundo

O pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de perturba-lo. Já cansado com aquilo, arrancou uma folha – que mostrava o mapa do mundo – cortou-a em varios pedaços, e entregou-a ao filho.

- Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo, e quero ver se você consegue monta-lo exatemente como é.

Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia. Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.

- Sua mãe andou lhe ensinando geografia? – perguntou o pai, aturdido.

- Nem sei o que é isso – respondeu o menino. – Acontece que, do outro lado da folha, estava o retrato de um homem. E, uma vez que eu consegui reconstruir o homem, eu também reconstruí o mundo".


Boa semana a todos.

Texto da semana

Um pequeno texto para começar bem a semana:




"Reconstruindo o mundoO pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de perturba-lo. Já cansado com aquilo, arrancou uma folha – que mostrava o mapa do mundo – cortou-a em varios pedaços, e entregou-a ao filho.

- Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo, e quero ver se você consegue monta-lo exatemente como é.

Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia. Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.

- Sua mãe andou lhe ensinando geografia? – perguntou o pai, aturdido.

- Nem sei o que é isso – respondeu o menino. – Acontece que, do outro lado da folha, estava o retrato de um homem. E, uma vez que eu consegui reconstruir o homem, eu também reconstruí o mundo".


Boa semana a todos.

Texto da semana

Um pequeno texto para começar bem a semana:


Reconstruindo o mundo


O pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de perturba-lo. Já cansado com aquilo, arrancou uma folha – que mostrava o mapa do mundo – cortou-a em varios pedaços, e entregou-a ao filho.

- Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo, e quero ver se você consegue monta-lo exatemente como é.

Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia. Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.

- Sua mãe andou lhe ensinando geografia? – perguntou o pai, aturdido.

- Nem sei o que é isso – respondeu o menino. – Acontece que, do outro lado da folha, estava o retrato de um homem. E, uma vez que eu consegui reconstruir o homem, eu também reconstruí o mundo.


Boa semana a todos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Aquela rosa

Essa foi a primeira letra que fiz sob encomenda para uma música já pronta. Lembro que levei um tempão para descobrir sobre o que a música se tratava.

Peguei meu caderno, meu gravador com a música (sem letra ainda, claro) e me danei a andar pelo Recife. Sentei na Praça do Entroncamento, ali pertinho do Clube Português, e fiquei ouvindo a melodia e vendo as pessoas passando, vivendo, cada um com uma história... para ver se a minha história dava bobeira por ali.

No fim das contas deu certo e hoje eu gosto bastante do resultado. E por fim tomei gosto pela coisa e me especializei em colocar letra em música já pronta.

Segue a letra:


Aquela rosa

Letra: Tibério Azul / Música: Diogo Andrade

O céu testemunhou
Cecilia aquela flor
Não murcha, parece que se apetece
Esta cada vez maior cá em mim.

Fincou-me uma raiz
brotou feito um jardim
e na madrugada acordo afobado
por todo lado o teu cheiro está.

E aí me recorda,
aquela história
da gente dançar como um par

O mesmo baile,
eu no mesmo traje
o teu vestido insiste em rodar

Juras e beijos e abraço
um regaço escondido
pra noite durar

O teu sorriso,
o cabelo comprido,
um adorno com a flor no lugar

Aquela rosa,
ah, bendita rosa !
Você prometeu vir buscar

Contorço no colchão
Confronto a solidão
e volto a dormir
pedindo de mim que enfim
possa te apagar, Cecilia


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Um pouco de boa música

Faz três dias que escuto esse disco sem parar. Vai uma pitada dele para empoetizar a semana:


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tristeza pouquinha é bobagem

As vezes as coisas dão errado e costumamos nos lamentar de forma exagerada. Coisas dão errado, funciona assim.

É preciso notar quanto já deu certo e que parte do todo o que deu errado representa. É tudo? Justifica tanto desespero?

Ganhamos mil presentes, aí no milionésimo primeiro algo falha e nós choramos como quem não ganhou presente algum.

Não dá pra ter tudo, hein? Faz parte.

Eu prefiro assim, tristeza pouquinha é bobagem.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O seixo correto

"O homem ouviu falar que certo alquimista perdera, num deserto muito próximo, o resultado de anos de seu trabalho: a famosa pedra filosofal, que transformava em ouro todo metal que tocava.
Impulsionado pelo desejo de acha-la e ficar rico, o homem dirigiu-se ao deserto. Como não sabia exatamente o aspecto da pedra filosofal, começou a pegar todos os seixos que encontrava, colocando-os em contacto com a fivela do seu cinto, e vendo o que acontecia.

Passou-se um ano, mais um, e nada. O homem, entretanto, seguia obstinadamente no desejo de recuperar a mágica pedra. Assim, automaticamente, caminhava pelos diversos vales e montanhas do deserto, esfregando um seixo atrás do outro em seu cinto.

Certa noite, antes de dormir, deu-se conta que a fivela havia se transformado em ouro!
Mas qual das pedras tinha sido? Será que o milagre acontecera de manhã, ou na parte da noite? Ha quanto tempo, realmente, não olhava o resultado do seu esforço?

O que antes era uma busca de um objetivo determinado, tinha se transformado num exercício mecânico, sem qualquer atenção ou prazer. O que era uma aventura, transformou-se numa obrigação aborrecida.

Agora já não tinha como descobrir a pedra exata, pois a fivela já era de ouro, e nenhuma outra transformação aconteceria. Percorrera o caminho certo, e deixara de prestar atenção ao milagre que o esperava".

Bom começo de semana a todos.