segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A mulher perfeita

Uma pequena história para nos inspirar no início da semana. Boa semana a todos:



A MULHER PERFEITA

Nasrudin conversava com um amigo.

- Então, mullah, nunca pensaste em casamento?

- Já pensei - respondeu Nasrudin. - Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. Atravessei o deserto, cheguei em Damasco, e conheci uma mulher espiritualizada e linda; mas ela não sabia nada nas coisas do mundo.

“Continuei a viagem, e fui a Isfahan; lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do espírito, mas não era bonita. Então resolvi ir até o Cairo, onde jantei na casa de uma moça bonita, religiosa, e conhecedora da realidade material.

- E por que não casaste com ela?

- Ah, meu companheiro! Infelizmente ela também procurava um homem perfeito.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Propaganda vazia

Ontem estava escutando o programa esportivo na rádio quando entrou a propaganda da Fiori, uma loja de carros em Recife. O locutor (que era um vendedor) anunciava uma oferta: um carro X por um preço Y (não lembro agora os valores e afins). Pois bem, era um preço médio, nem caro, nem barato, igual aos outros preços das outras lojas. No entanto, ele berrava:

- Não perca. É incrível. Só isso o preço? Meu Deus do céu. Corra logo para cá....e coisas do tipo.

Na minha mera opinião isso é um grito a esmo no vento. Esse tipo de propaganda acabou, passou. Está com os dias contados.

Eu penso que a publicidade é um mensagem direcionada e amplificada, e não um pacote vazio por dentro. O intuito da comunicação de um produto é encontrar o possível cliente, que está ali, que tem interesse, que vai gostar daquilo ou tem potencial para gostar. Puxa, aquela imagem do empresário que monta algo cheio de falhas, tudo errado, tudo de mentira e vende com uma puta maquiagem para ficar rico e fugir para a Suíça é passado.

Quer fazer propaganda do seu negócio? Procure o que ele tem de melhor, qual o diferencial dele, o que faz com que o negócio funcione, tenha clientela e renda. Vai fazer a campanha de uma faculdade? Coloca alguém que estudou lá mesmo. Outro dia vi o outdoor de uma faculdade com um amigo que nem sequer tinha feito faculdade. Isso fica vazio. Dura um leve tempo somente e despenca.

Acho que em um tempo onde as pessoas se encaminham para a harmonia, para o controle social, o cuidado com o meio ambiente e com o outro, a publicidade irá também comungar desse viés.

Como? Uai, fazendo uma campanha densa, com verdades. Pesquisando na empresa o que atrai os clientes de fato, o que a empresa oferece de melhor, que diferencial é possível ampliar ali. Se a empresa passa por uma crise é bem mais fácil consertar os vazamentos antes, aparar as arestas internas. A comunicação não transforma sapos em príncipes, ela encontra quem ame sapos.

Afinal, é muito mais barato corrigir pequenos erros em uma empresa do que inventar, ampliar e sustentar uma inverdade.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nem tanto nem tão pouco

Um pequeno texto para inspirar nossa semana:


O caminho do meio

O monge Lucas, acompanhado de um discípulo, atravessava uma aldeia. Um velho perguntou ao asceta:
- Santo homem, como me aproximo de Deus?
- Divirta-se. Louve o Criador com sua alegria - foi a resposta.

Os dois continuaram a caminhar. Neste momento, um jovem aproximou-se.
- O que faço para me aproximar de Deus?
- Não se divirta tanto - disse Lucas.

Quando o jovem partiu, o discípulo comentou:
- Parece que o senhor não sabe direito se devemos ou não devemos nos divertir.
- A busca espiritual e' uma ponte sem corrimão atravessando um abismo – respondeu Lucas. - Se alguém esta' muito perto do lado direito, eu digo 'para a esquerda!' Se aproximam-se do lado esquerdo, eu digo 'para a direita!'. Os extremos nos afastam do Caminho.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um post danado de óbvio

As vezes me pego tendo o maior dedo do mundo para escrever um post aqui nesse blog. Passo um tempo pensando, observo as coisas na rua, os jornais, notícias, observações de outros. E fico procurando um tema claro, preciso e interessante. As vezes sento e começo a escrever algo mas acho bobo, óbvio demais. Deleto e me ponho a pensar de novo.

Passo pelas esquinas e incito conversas variadas na esperança de que um assunto qualquer possibilite um post e tanto. Um daqueles post bonitos, onde eu possa receber belos e carinhosos elogios, um espaço onde a veia poética pulse a vontade, livre, onde o talento que carrego possa se desenvolver e evoluir. Um daqueles post disposto a mudar o mundo.

Paro e penso.

Passam-se dias e eu parado. Penso.

E a busca por um post excepcional acaba por se tornar um post vazio. E dias sem post algum.

Pois é. Assim como na vida é necessário abraçar o óbvio e "amar o transitório" vez por outra.

E eu percebi que muitas vezes espero um assunto excepcional para viver. Que besteira minha.

Eis um post muito do bobo. Que preenche a vida com sentido através de palavras óbvias. Comum. Mas vivo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre os ataques a gays e correlatos

Recebi um email spam religioso criticando o homossexualismo e abominando o casamento gay. Esse email falava que as coisas estavam perdendo o rumo, que a família estava sendo desmoralizada e que pessoas do mesmo sexo juntas não era algo natural. Nessa mesma semana um grupo de adolescentes atacou em São Paulo pessoas a esmo por serem gays.

Puxa, se tem uma coisa que me irrita é isso.

Acho engraçado como os discursos conservadores e preconceituosos se repetem. Eles se adaptam a novas vítimas com os mesmos argumentos. É antigo, arcaico e é sempre fruto de um medo terrível do desconhecido.

O homossexualismo é uma opção individual. "Mas não é natural", dirão alguns. E o que é natural hoje em dia? Por acaso a mulher tomar pílula para não engravidar e fazer sexo apenas por prazer é natural? Não, absolutamente não é nem um pouco natural.

"Se fosse assim Deus não teria feito o homem e a mulher". Essa é uma falácia gigante. Se fosse assim Deus nos teria feito com assas e no entanto o homem criou o avião e voamos. Talvez Deus nos tenha feito para descobrir as coisas, inclusive internas: das nossas vontades e dos nossos potenciais.

Uma vez estava conversando com um evangélico sobre o tema e ele me veio com essa:

- Olhe, para mim tudo que não faz bem ao corpo é pecado.

Eram duas horas da tarde e estávamos sob um sol escaldante sem protetor solar. Perguntei então:

- Estais pecando agora não é amigo?

O pensamento limitado é um perigo gigante para os bons sentimentos.

Quantas coisas já apareceram como dano iminente a sociedade sã e depois se tornaram parte querida dela. O próprio Jesus foi atacado com os mesmos argumentos e através do mesmo medo.

Não sou defensor do homossexualismo em si, sou defensor das pessoas.

Acho que cada um deve seguir os caminhos e arcar com suas benesses e resultados.

Conversando com um amigo pastor sobre temas correlatos ouvi diversas e belas citações da bíblia:

- Você acredita no dia do juízo final, na sua prestação de contas, no julgamento. E você acha que nesse instante, de frente ao criador, ter mais ou menos frases decoradas irão auxiliá-lo?

- Não.

- Você acha que alguma coisa que você disser, qualquer coisa, irá auxiliá-lo?

- Não.

Então meus amigos, ao proferir ataques a homossexuais ou ao que quer que seja analisem que sentimento brota no seu peito. Porque o ódio, a raiva e a incompreensão não são sentimentos religiosos e fazem mais parte dos pecadores do que dos defensores do amor maior.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O sonho de ser artista

Outro dia estava lendo o jornal e me deparei com um trecho falando da saga de uma atriz que se mudou para o Rio de Janeiro com o "sonho de ser artista". Fiquei com isso na cabeça e lembre das palavras de Rainer Maria Rilke.

Porque sonhar em adquirir algo que é seu?

Acho que a mídia e toda a indústria que trabalha com arte confunde um tanto a cabeça da gente. Vamos separar uma coisa muito importante: uma coisa é ser artistas e outra coisa é ter grande respaldo público e financeiro no MERCADO que trabalha com a arte.

Ter o clamado sucesso não tem nada a ver com ser artista ou não. O sucesso é apenas símbolo de boas vendas, produtos bem arranjados, bons vendedores, boa loja, boa publicidade, apresentação pública bem direcionada ao público alvo e coisas outras mais específicas. Essa é a primazia do sucesso na indústria.

Até chega a parecer que artista é quem adquiriu dinheiro e visibilidade. Será?

Quem busca o sucesso achando que busca a arte começou a andar para trás.

Em determinado momento, Chico Buarque chega com um novo disco e o apresenta para a gravadora com uma capa artística, sem foto nem nada:
- Mas Chico, assim, sem você na capa, não vai vender nada.
- Olha, deixa eu te explicar uma coisa. Eu sei fazer discos. O seu trabalho é vendê-los. Então venda, isso não tem nada a ver comigo.

Picasso quando novo (muito novo) começou a pintar quadros clássico religiosos e ocupou um lugar de destaque na pequena cidade onde morava. De repente parou tudo e iniciou nova perspectiva artística. Alcançou respaldo em várias fases, mas sempre mudava e iniciava nova busca. Chegou a inventar o Cubismo que o consagrou publicamente no mundo inteiro. De repente parou tudo e iniciou uma nova perspectiva artística. Fez isso uma dezena de vezes, porque seu vínculo sempre foi com a arte e nunca com o mercado. Picasso não escolhia as cores pelo preço da tinta.

Para Rilke fazer arte é uma questão interna, própria, de necessidade: "pergunte a si mesmo se morreria se lhe fosse proibido produzir arte. Se a resposta for sim, se você acha que morreria, então direcione toda sua vida a partir dessa necessidade".

Não digo isso desmerecendo o mercado, de forma alguma. Mas é esclarecedor pensar que o mercado vem depois da arte e nunca antes. O mercado não produz, não realiza obras, ele apenas as comercializa.

Então que sonhem em obter espaço no mercado das artes, que sonhem em ter suas obras publicadas, que sonhem em ter suas atuações assistidas, suas músicas tocadas, seus quadros expostos.

Mas não sonhem em se tornar artistas, assumam-se somente. Ou não.

Copiado na internet, endereço aqui

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma pequena história para começar a semana

Como eu gosto de fazer no começo da semana, segue um texto para nos alimentar as sensações.

Boa semana a todos:


AFASTANDO OS FANTASMAS

Durante anos, Hitoshi tentou – inutilmente – despertar o amor daquela que acreditava ser a mulher de sua vida. Mas o destino é irônico: no mesmo dia que ela finalmente o aceitou como futuro marido, também descobriu que estava com uma doença incurável, e não deveria viver por muito tempo.
Seis meses depois, já a beira da morte, ela pediu:

- Você vai me prometer uma coisa: jamais se apaixonará de novo. Se fizer isso, voltarei todas as noites para assombra-lo.

E fechou os olhos para sempre. Durante muitos meses, Hitoshi evitou aproximar-se de outras mulheres, mas o destino continuou irônico, e ele descobriu um novo amor. Quando preparava para casar-se, o fantasma da ex-amada cumpriu sua promessa, e apareceu.

- Você está me traindo – disse.

- Durante anos eu lhe entreguei o meu coração, e você não me correspondia – respondeu Hitoshi. – Não acha que mereço uma segunda chance de ser feliz?

Mas o fantasma da ex-amada não quis saber de desculpas e, todas as noites, vinha assusta-lo. Contava em detalhes o que tinha acontecido durante o dia, que palavras de amor ele dissera a sua noiva, quantos beijos e abraços haviam trocado.



Hitoshi já não podia mais dormir, e foi procurar o mestre zen Bashô.

- É um fantasma muito esperto – disse Bashô.

- Ela sabe tudo, nos menores detalhes! E já está levando o meu noivado ao fim, porque não consigo dormir, e, nos momentos de intimidade com minha amada, fico constrangido.

- Vamos afastar este fantasma – garantiu Bashô.

Naquela noite, quando o fantasma retornou, Hitoshi interrompeu-o antes que dissesse a primeira frase.

- Você é um fantasma tão sábio, que vamos fazer um trato. Como você me vigia todo tempo, vou perguntar algo que fiz hoje; se acertar, eu largo minha noiva e nunca mais terei mulher alguma. Se errar, você promete não tornar a aparecer, sob pena de ser condenada pelos deuses a vagar para sempre na escuridão.

- De acordo – respondeu o fantasma, confiante.

- Esta tarde, eu estava na mercearia, e, em determinado momento, peguei um punhado de grãos de trigo de dentro de um saco.

- Eu vi - disse o fantasma.

- A pergunta é a seguinte: quantos grãos de trigo eu segurei?

O fantasma, na mesma hora, entendeu que não conseguiria jamais responder à pergunta. Para evitar ser perseguido pelos deuses na escuridão eterna, resolveu desaparecer para sempre.



Dois dias depois, Hitoshi foi até a casa do mestre zen.

- Vim agradece-lo.

- Aproveite para aprender as lições que fazem parte desta sua experiência – respondeu Bashô.

“Em primeiro lugar, aquele espírito voltava sempre porque você tinha medo. Se quiser afastar uma maldição, não lhe dê nenhuma importância.

“ Segundo: o fantasma tirava proveito de sua sensação de culpa: quando nos sentimos culpados, sempre desejamos – inconscientemente – o castigo.

“ E finalmente: ninguém que realmente o amasse iria obriga-lo a fazer este tipo de promessa. Se você quer entender o amor, aprenda a liberdade.”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Os direitos do ouvido

Existem duas coisas que me tiram do sério, na verdade um pouco mais de duas, mas duas coisas me tiram bastante do sério e servem especialmente para esse post: conversas no cinema e som alto em lugares públicos.

Meu Deus, porque as pessoas julgam que os outros são obrigados a ouvir o que desejam e compartilhar de suas conversas? E se não pensam assim, o que as faz imaginar que a lei da física não se aplica aos seus momentos de diversão sonora limitando o som alto e suas conversas apenas ao espaço que ocupa?

Não, senhores, nada disso. O som alto ocupa todos os espaço possíveis. A conversa no cinema é de uma falta de educação gritante.

Um dia ainda vou arrumar um desses carros super-som, chegar em um ambiente com tais figuras e ligar a todo volume uma sinfonia de Stravinsky, Verdi, Mozart...:

- Ei rapaz, abaixa esse som, que esquisito...
- Esquisito nada. O negocio do som alto funciona assim, cada um ouve o que quer. Ta rolando brega, forro e pagode nesse lado, aqui tem musica classica. E vao ter que engolir...


No cinema, quando um desses "donos dos ouvidos alheios" iniciar seu bate papo como se estivesse na sala de casa, inicio em seguida uma conversa em competicao com os temas mais absurdos possiveis: sexo, drogas, maus tratos ou qualquer outra coisa que possa chocar, num volume que se possa ouvir:

- Ei rapaz, essa conversa esta nos incomodando.
- Serio? Mas nao e' para o senhor ouvir. Estou conversando aqui com meu amigo, e' uma conversa particular.

Bem, claro que nunca irei realizar tais facanhas, mas que da uma vontade...isso da.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Apanhador de desperdícios

Hoje em dia tenho uma identificação larga com a poesia de Manoel de Barros. Recentemente li o livro "Memórias inventadas: A Infância", e gostei tanto que fiquei lendo devagarinho, como fazia quando ganhava na infância um chocolate de mainha e tentava prolongar ao máximo o tempo com aquela gostosura. A poesia de Manoel é uma gostosura.

Copiei uma para vocês, bom proveito:



Apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito as coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
amo os restos
como as boas moscas.
Queria que minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Democracia

Gostaria que algumas pessoas entendessem que democracia significa "vontade da maioria" e não "vontade de todos".

Ou seja, em uma democracia diversas propostas não alcançam sucesso, assim como várias opiniões são contestadas e dispensadas. Isso é democracia.

Tenho total consciência inclusive que a liberdade de opinião não é exclusiva das opiniões consideradas "boas", "corretas" ou quaisquer outras coisas. Liberdade é uma via para todos os lados: para a direita, para esquerda, para cima, para baixo e para lugar algum.

Por isso, quando vejo pessoas fazendo voz para conceitos ultrapassados e até vergonhosos na minha opinião, sinto uma ponta de orgulho por estar em um lugar que possibilita essa cena e outras "bem" melhores.

Por isso, algumas pessoas, abram sua cabeça para a nossa democracia. É assim que ela funciona, e tem funcionado muito bem.

Ah, e parabéns a Dilma: a minha, a sua... a presidente de todos (quer gostemos ou não...eu gosto).