Conversando com uma simpática repórter de Brasilia agora a pouco falava sobre a minha visão de poesia, uma poesia sem versos.
Sinto falta, na arte que ronda nossas rádios, jornais e etc., da poesia. Mas quando falo da poesia, não me refiro a poesia engessada, aos poemas decassílabos, ou a qualquer poema entendido como tal. Me refiro ao olhar poético.
Tocar um violão rápido, um piano com precisão, fazer caretas, rebolar, ir até embaixo, fazer barulho, rimas interessantes, improvisar com rapidez, usar roupas coloridas, estar na moda, usar preto e gritar rouco, estar fora da moda, produzir um timbre bonito, alcançar notas agudas, produzir um timbre feio, ter presença de palco e todas outras coisas do tipo são "habilidades".
Habilidades como fazer conta rápido, indicar um defeito só de ouvir o barulho do motor, saber explicar bem um assunto para uma sala repleta de alunos, consertar máquinas, demolir edifícios, consertar o corpo humano, indicar remédios, analisar pesquisas, produzir uma peça publicitária, criar outra, escrever uma matéria, construir um prédio, fazer um site...
...habilidades, algumas admiráveis, mas habilidades.
O artista do nosso imaginário, o sujeito que "veio a passeio" (como diz o dito popular), esse não se sustenta na habilidade. O artista é a poesia.
O artista vê poesia, pega em poesia e molda poesia. O artista joga poesia para cima e para baixo, se veste dela, passa adiante.
O artista talha a poesia na madeira, nas cordas do violão, no canto, no piano, em quadros, em rostos, em gestos, em silêncio.
É tolo pensar que o artista toca piano ou violão ou bateria ou canta ou interpreta. Nada disso.
A única coisa que o artista faz bem é ouvir ver e sentir poesia. Esse é o seu dom. O resto são bonitas habilidades.