sexta-feira, 29 de abril de 2011

Força estranha

Acho essa música de Caetano um absurdo. Não só em melodia, harmonia ou letra, mas em intensidade, em entrega, em força mística (estranha).

"Estive no fundo de cada verdade encoberta", ele diz. E deve mesmo ter estado e enxergou algo que eu ainda não vi.

Uma canção sobre o artista, sobre o homem e aquilo que está acima de nós.

Força Estranha



Força estranha
Caetano Veloso

Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.

Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.

Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.

Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.

Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
e a coisa mais certa de todas as coisas.
Não vale um caminho sob o sol.
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.

Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Que é isso... bondade sua... queria eu.

Estava esperando minha vez na sala de espera da terapia quando uma terapeuta conhecida de vista parou na minha frente:

- Meu filho, você está ficando ainda mais bonito com o tempo.

Todo envergonhado, com um sorriso amarelo no rosto, respondi:

- Que é isso... bondade sua... queria eu.

Ela que já se dirigia ao primeiro andar parou. Deu meia volta, pegou na minha mão com carinho e olhando nos meus olhos disse cortante e delicada:

- Você precisa aprender a aceitar de bom grado um elogio.

Vocês devem imaginar o tamanho da minha timidez nesse momento. Mas o que ela falou bateu fundo e eu entendi perfeitamente. Percebi o quanto estava sendo indelicado e confrontando uma pessoa de forma desnecessária. Sei que não era a minha intenção, claro, mas sem pensar e agindo de impulso acabei usando palavras contra a boa energia que me era destinada.

Quantas vezes não fazemos isso hein? E ainda achamos que é questão de educação... ou humildade.

Assim, depois dessa terapia instantânea, aprendi a dizer com toda humildade e facilidade do mundo:

- Muito obrigado. Fico feliz.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Terra, água e sal

Hoje, para inspirar a nossa semana, resolvi colocar uma música minha. Fazia tempo que não a ouvia e semana passada em um impulso acabei por ouvir novamente o disco da Mula Manca, o Amor e Pastel. Eu gosto desse disco, principalmente das composições dele.

Essa música foi uma das primeiras de um momento mais delicado meu. Momento que passei a compor com calma, paciência e bastante observação.

Muita gente pensa que o meu intuito era falar do amor, mas foi quase. Escrevi a música sobre a paixão e sobre pessoas viciadas nesse sentimento. Passei semanas observando amigas e amigos nesse perfil, ouvindo os discursos, as opiniões, perguntando. Foi um trabalho bastante divertido. No final bolamos um arranjo que desse o sentido de repetição, de algo circular.

Para vocês deixo essas palavras melódicas que depois que as lancei deixaram de ser minha e passaram a ser do mundo.

Boa semana a todos.


Terra, água e sal
Tibério Azul

De terra água e sal
O mal, um querubim

Vem como quem
Sabe a hora de vir
Banha meu corpo
Demora a sair

Me encobre e me revela
Nesse deixa-me embolar
Faz um arco em aquarela
De todas as cores que encontrar

Salgado o coração
Transborda absolvição

Ai, faz-me mais
Sou capaz de afogar
Ah, esse mar
Não parece acabar

Me encobre e me revela...

E quando for pra ir
Tu vai sem me pedir

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um post a pedidos

Um leitor(a) anônimo pediu no post passado um texto sobre distância, saudade. Aquilo que é urgente por vezes tem que ser atendido, não é?

Então parei, pensei um bocado e resolvi escrever sobre saudade.

Saudade amigos é vida. É o coração pulsando, a comprovação do amor, das relações fortes, firmes. A saudade é quase como se o amor fosse água e se transformasse em gelo, quase sólido, o sentimento palpável.

Sentir saudade e falta de alguém é algo magnífico, porque significa que estamos com alguém nesse mundo, que estamos escrevendo nossas história. Diversas pessoas clamam pela saudade de um grande amor, de um grande amigo, de uma família viva.

De fato as coisas por vezes acabam, as pessoas se vão. Mas a dor que nos corrói nesse instante é apenas um reflexo de toda fortuna que já recebemos e que continua conosco, talvez eternamente.

As vezes que presenciei enterros e testemunhei o sofrimento dos amigos e amores que ficaram, sempre tive uma larga impressão de que deveríamos agradecer, não a ida do nosso amor, mas a existência dele. Ele viveu e ele vive, e por isso dói.

Ao sentir uma pontada aguda no peito desfalecendo-o como um todo você pode dar um leve sorriso no rosto e sussurrar para si mesmo: eu amo.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tudo termina

Um pequeno texto para nos inspirar a semana. Boa semana a todos:




Tudo vira pó

As festas de Valência, na Espanha, têm um curioso ritual, cuja origem está na antiga comunidade dos carpinteiros.

Durante o ano inteiro, artesãos e artistas constroem esculturas gigantescas em madeira. Na semana de festa, levam estas esculturas para o centro da praça principal. As pessoas passam, comentam, se deslumbram e se comovem diante de tanta criatividade. Então, no dia de São José, todas estas obras de arte - exceto uma - são queimadas numa gigantesca fogueira, diante de milhares de curiosos.

- Por que tanto trabalho a toa? - perguntou uma inglesa ao meu lado, enquanto as imensas labaredas subiam aos céus.

- Você também vai acabar um dia - respondeu uma espanhola. - Já imaginou se, neste momento, algum anjo perguntasse a Deus: “porque tanto trabalho a toa?”

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tempo de despertar

Estava passeando pelos canais da tv (paga é claro) quando parei um pouco no filme "Tempo de despertar". Um filme lindo sobre a história de um médico que consegue acordar um doente vegetativo.

Então me deparo com a cena da mãe do paciente e a tocante fala:

- Quando meu filho nasceu são e saudável não questionei o porque daquilo, nem se eu merecia tanto, nem o motivo de ter sido escolhida para aquela benção. Mas quando ele adoeceu, eu questionei bastante.

No fim das contas, é bem assim, não é?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Inconsciente coletivo

Um professor que eu tinha na universidade costumava ensinar que a publicidade (e a comunicação como um todo) não cria movimentos, mas apenas antecipa um inconsciente coletivo. Ou seja, dar voz ao que já está dentro das pessoas. Essa não é uma idéia fechada na academia, mas tem os seus adeptos.

Sei que a propaganda é muitas vezes um monstro sem escrúpulos. Mas vez por outra alguém se conecta a um sentimento digno, ou interessante, ou vivo e acaba sendo instrumento de algo maior, mesmo que nem sempre com as intenções ideais.

Vi esse comercial e me emocionei. De verdade.

O texto inspirador dessa segunda feira é um comercial da Coca Cola.

Tenham uma boa semana:

"Para cada muro que existe, se colocam 200 mil tapetes escrito 'Bem Vindo'".




sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sobre o massacre no Rio de Janeiro

As vezes não podemos fazer nada a não ser nos render aos mistérios da vida.

Porque isso?

Porque?

Por nada... e pouco temos a questionar, porque não temos ninguém a questionar.

De cabeça baixa em lamentos somos obrigados a nos render aos mistérios da vida.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não conta a ninguém

Uma das coisas importantes que descobri com alguns anos de terapia é o quanto um segredo pode destruir uma pessoa.

Os segredos necessitam de cuidados, fortalezas, pactos, grossas paredes, atenção, desconfiança, cadeados, mentiras, negação, pré-conceitos, antecipação, discriminação, sistemática, complexas matemáticas, caixas, caixotes, caixões, músculos, tensão, rigidez, arbitrariedade, promessas, suicídios.

Uma vez, em uma discussão, ouvi de uma pessoa, que vim descobrir depois estar cheia de segredos, orgulhosa de si esbravejar:

- Eu sou um muro, um muro!

O que eu hoje acredito é que não vale de nada ser um muro. É amplamente desnecessário e só aprisiona nós mesmos.

Frequento um grupo terapêutico chamado "Constelação familiar" e toda vez que convido alguém para ir comigo a primeira coisa que as pessoas comentam com receio é sobre falar de seus problemas e todos ouvirem:

- É um dos princípios básicos, eu digo, liberte-se.

Quem não defende segredos, não se defende. Não precisa de armas, nem criar conceitos prévios de ninguém, nem julgar, nem falar alto demais.

Quem não protege segredos pode abraçar a vontade.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Malas prontas

Passei uma semana fora de casa, viajando com a banda, conhecendo lugares novos, correndo riscos, conhecendo pessoas, se entregando, correndo riscos. Volto, desfaço minhas malas e olhando-as vazias fico parado refletindo.

Não possuímos quase nada na vida, quase nem possuímos nós mesmos. Os budistas sempre exaltam que nada é, na verdade, tudo está.

"Orai e vigiai", disse Cristo. "Se ligue, porque bobeou, passou", poderia ter dito hoje em dia.

Hoje eu tenho, gosto do que tenho, de como sou, de como me apresento, de como me vêem, de como vejo o que se aproxima e o que está ao meu lado. Mas isso tudo pode de repente ir, pode mesmo.

Sempre que viajo tenho uma impressão de que posso me desfazer de tudo em um único instante, de que posso simplesmente morrer (até porque avião causa essas coisas, né?...rs). É uma sensação ruim, de medo.

Mas sempre que volto pra casa me encho novamente de alegria como se herdasse tudo de mim mesmo ou como se continuamente ganhasse uma nova chance. É uma sensação boa, edificante.

Aí eu olho novamente a mala vazia e bate uma sensação de que precisamos de alguma forma estar com as malas prontas.