quinta-feira, 29 de abril de 2010

Obras que mudaram minha vida

Sou uma pessoa sugestionável para as obras de arte. É incrível como de tempos em tempos alguma obra, ou artista, me toca profundamente ao ponto de mudar, de verdade, meu olhar e meu caminho sobre a vida. Recentemente isso ficou mais claro para mim. Antes eu sofria essa mudança mas não percebia tanto.

Fiz uma rememorização e cataloguei pontos cruciais da minha vida através da arte.

Em ordem cronologica a minha vida foi diretamente afetada por:

1 - Turma da Mônica
- Antes de aprender a ler eu já me deliciava com os gibis de Maurício de Souza. Pedia a todo tempo e a todo mundo para ler uma pequena história para mim. Quando de posse do conhecimento das letras lia incansavelmente todos os gibis (e olhe que eu tinha muitos) e repetidamente. Minha mãe me acordou por vezes no banheiro sentado na privada com o livro nas mãos.

2- Trilogia de Pedro Bandeira: A droga da obediência, Anjo da morte, Pântano de sangue.
- Aqui eu descobri os livros e abandonei os gibis. Era um mundo novo.

3- Os Beatles
- Virei Beatlemaníaco e queria a todo custo ser John Lennon. Foi o primeiro contato com a mágica que envolve as melodias e canções.

4- O livro dos espíritos
- Não é lá uma obra de arte, mas é um livro. Num momento de transição, 17 anos, na angústia que cabe a idade, recebi essa indicação materna. Li inteiro, do começo ao fim e me encantei. Frequentei o centro espírita depois disso, li bastante e ainda carrego esse livro comigo. A partir daqui meu olhar sobre o mundo ficou mais amável e a minha religiosidade brotou de vez.

5- The wall, o filme
- Descobri a dor e a angústia do mundo adulto, e gostei dela na arte. Após ver esse filme pela primeira vez passei uma semana calado, pensando. É a estética do sentimento, a dor enquanto obra de arte. Até hoje me delicio com esse filme como se visse um belo quadro. Foi através dele que descobri diversos outros artistas, como The Doors, etc.

6-A biografia de Che Guevara
- Um primo ganhou esse livro (enorme!!!) e nas férias da faculdade peguei emprestado para ler umas partes: li inteiro. Virei e ainda sou um admirador de Che e durante um bom tempo alimentei verdadeiras ambições de viajar pela Améria Latina. A força e determinação desse personagem encantam qualquer um. Virei um revolucionário de mim mesmo depois disso.

7- Sidarta, de Hermann Hess
- Puxa, esse é incrível. Após ler Sidarta eu parei tudo e reavaliei tudo. Hoje sou um adepto do Zen Budismo, entrei para o Aikido e tenho, ainda, criado leituras próprias com base nos conceitos Zen. Tive alguns auxílios importantes aqui. E o que esse livro me trouxe ainda move dentro de mim e encaminha mudanças. Minha religiosidade, desperta anteriormente, cresceu e se vestiu de leveza e tranquilidade.

8- Chico Buarque (Banda Seu Chico)
- Já o conhecia, mas nunca tinha me aprofundando em suas canções. Com a Banda Seu Chico no entanto pude me aprofundar profundamente na sua obra. Hoje, mesmo sem querer, percebo a intensa influência de Chico em tudo que produzo artisticamente. Aqui foi uma mudança por osmose.

9 - Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke
- Li esse livro a menos de seis meses. Na verdade, li o primeiro capítulo e travei. Fala sobre arte, poesia e sobre a essência do poeta. Ainda estou recebendo suas interferências e nesse momento comecei a ler de novo. Ele diz: "pergunte a si mesmo se a sua poesia é uma propriedade natural...uma necessidade. Se a sua resposta for 'sou', então construa sua vida de acordo com essa necessidade".

terça-feira, 27 de abril de 2010

Medo de avião

Acabei de voltar de uma viagem ao Rio de Janeiro para tocar com a BANDA SEU CHICO, e toda vez que viajo tenho que lidar com esse monstro assustador de metal: o avião.

Alguém aí NÃO tem medo do danado?

Bem, eu já morri de medo, mesmo. Hoje em dia, por estar viajando bastante (bastante mesmo) me acostumei ao ponto de sair da situação de pânico para a situação de incômodo. Algumas coisas me ajudaram nessa migração: terapia, repetição e disposição (sem contar um remedinho antes da viagem para auxiliar o funcionamento das três).

Eu acho incrível como precisamos nos abster de controle na situação de vôo. Ali controlamos absolutamente nada, nem ao menos sabemos o que está acontecendo. Muitas das pessoas que têm medo costumam olhar para as aeromoças para tentar pescar alguma informação: - se a aeromoça ficar assustada é que ferrou tudo, dizem. Isso só demonstra o quanto não temos acesso a nada.

Outra sensação que assusta é a impossibilidade de acidente com sobreviventes, ou seja, se der bronca é morte certa.

Sempre caminhei com essas duas sensações no avião, e sempre em pânico.

Aí comecei a tentar observar. Observar-me. E percebi isso tudo.

Hoje viajo tranquilo, só fico tenso no momento da subida e em alguma turbulência forte demais. Antes passava a semana pré em estado de alerta.

Creio que o sistema para amenizar esse medo é treinar confiar no piloto, no destino e se desligar um pouco do tamanho daquele treco e da altura que ele voa.

Numa outra oportunidade eu discorro aqui as minhas técnicas de ficar tranquilo num vôo intranquilo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Opinião precisa

No meu último post discuti sobre a falta de opção e a sensação de desnorteio frente a pobreza e ao funcionamento da pobreza em nossa sociedade. Um grande amigo, por quem guardo enorme respeito e admiração, e que hoje se encontra em Angola, mais atento ainda a esse assunto pela inserção a que se submete, teceu um comentário que me fez pensar bastante e me abriu um fenda no olhar.

Resolvi compartilhá-lo mais atentamente com vocês. Segue:


O homem passou pela época do 'ser' (iluminismo), do 'ter' (capitalismo) e agora passa pela fase do 'aparecer' (fruto da atual sociedade da informação). O princípio que move a necessidade de exibir riqueza vejo como idêntico ao que provoca exibir a miséria. Não digo a miséria em si, que é a própria ausência de condições mínimas de dignidade e bem-vivência. Mas quando uma pedinte carrega um bebê no colo, estimula em quem aquilo vê uma sensação inversamente proporcional ao ver uma bolsa Louis Vuitton no colo de uma mulher de posses. Ou seja, ambos são alegorias.

O fato da esmola é parecido com o sistema de telemarketing: você nunca trata com o gerente. Mas ele existe. E encontrá-lo é abrir uma fresta ao sistema. Realmente, ao meu ver, é preferível o gesto de "conhecer a cozinha", ou seja, de abordar o miserável pela surpresa, levá-lo para uma experiência fora da realidade dele (fazer um lanche, ver o rio, jogar bola). A verdade está lá, do mesmo jeito. Se ele mente, é a verdade dele, é o sistema dele. Dar um trocado é manter a linha de produção em andamento. Por outro lado, é insustentável abordar cada pedinte desse modo mais interativo: o fato de pedir já é uma falha na sociedade.

Mas isso já é outra conversa...

Fernando Almeida

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Desconfiança

- Por favor, eu vim do interior porque tinham me prometido um emprego e agora estou sem ter como voltar, o senhor não poderia me ajudar a comprar a passagem de ônibus? Na verdade mesmo, tenho que comprar remédios dessa receita... e fui assaltado levaram tudo o que ganhei no trabalho do dia e meu pai vai me bater se chegar assim...

Quem nunca ouviu uma dessas histórias? Quem nunca acreditou? Quem hoje não duvida?

Semana passada, após um almoço comido pela metade, pedi para embalar o restante e ofereci a um rapaz na rua. O olhar do homem ao receber a comida, movido pela necessidade tanto quanto pela humilhação, me tocou profundamente. E tive uma nítida sensação de não saber o que fazer. Alguém já se sentiu assim?

Certa vez, com cerca de 20 anos de idade, eu e um primo estávamos passando por uma rua e vimos um pobre garoto em um canto aos prantos. Detalhe: aos prantos mesmo. Paramos o carro na hora e ouvimos a história que tinha sido roubado e que se voltasse sem nada pra casa o seu pai bateria nele e etc. Colocamos o menino no carro, fizemos um lanche com ele, conversamos bastante sobre a necessidade da escola, de estudar, de ir a igreja. Pegamos uma mala de roupas, um bom dinheiro e o deixamos na porta da favela onde morava. É assim, penso eu, que agem as pessoas não acostumadas com o sofrimento - se movimentam.

Pois bem, cerca de três meses depois ouço a mesma história de um amigo e depois de outro. Mais um pouco de conversa e descubro que na verdade era um truque, uma forma esperta de ganhar dinheiro rápido. Puxa, aquilo me doeu. Definitivamente não doeu porque fui enganado, de forma alguma. Acredito que ser enganado faz parte da vida, como se enganar sozinho. Me doeu a imagem que esse jovem alimentou na cabeça das pessoas sobre mendigos, pobres e necessitados desesperados. Em algum lugar, pensei, tenho certeza, alguém necessitado de verdade deve ter tido ajuda negada através da idéia: "isso é fingimento", e o mais triste é que o pensamento procede.

Uma amiga no Rio pegou um táxi e ouviu a história mais triste de sua vida. O taxista continha o choro enquanto atendia o telefone das filhas pedindo calma a elas. A história era que a mulher estava em estado terminal e que estava trabalhando até juntar R$120 para pagar um remédio que amenizava a dor enquanto agonizava para a morte. Minha amiga pagou o necessário e chorou por uma semana inteira. A história era falsa.

Minha mãe, outro dia, voltando para Maceió de Recife atendeu o pedido de um rapaz desesperado sem ter como voltar e blá, blá, blá. Pois bem, ela comprou a passagem com a poltrona ao seu lado, não entregou o ticket ao pedinte e disse: na hora do embarque esteja aqui e você vai comigo. Ele foi. Dessa vez parecia verdade.

Mas pensem no turbilhão de defesas que criamos. Em quantas confirmações precisamos até que possamos sentir confiança em ajudar alguém desesperado. Em quantas vezes deixamos de ajudar alguém por medo. O pior: medo justificável.

Hoje, prefiro ajudar instituições, grupos de apoio, centros religiosos de amparo e coisas do tipo. E parei, definitivamente, de dar esmolas.

Mas isso é muito triste mesmo.

Vi uma entrevista com Roberto Carlos, ex-morador de rua (até fizeram um filme sobre ele). Ele repetia para não dar esmolas, principalmente a crianças. Mas e as carinhas de desespero que elas fazem? É um aprendizado, ele dizia, um treinamento.

Eu entendo, mas me dói excessivamente não poder relaxar e acreditar nas coisas e pessoas, não é de meu feitio. Não acreditamos em políticos, em vendedores, em pastores, em padres, em pessoas necessitadas...caramba!

Desconfiaça: desconfiar + -ança; ver fi(a)-; f.hist. sXV desconfiança, sXV desconfiãça, substantivo femino - falta de esperança.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Guerreiro



Para o guerreiro a vitória vem após a batalha.
Para ele a vitória é conseguência e nunca objetivo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Felicidade x Alegria

Esse fim de semana me deparei com vários problemas, tanto comigo quanto com amigos próximos, tanto abstrato como prático. Faz parte... Mas tomei a experiência para refletir sobre a diferença entre felicidade e alegria.

Dois comentários me incitaram esse blog. O primeiro foi de uma amiga tentando buscar a felicidade travestida de alegria. E o segundo, da minha mulher que no auge de tudo saiu com essa: e somos tão felizes.

Hoje em dia, creio, somos completamente encharcados com a definição de que felicidade é a alegria ininterrupta: "ficou triste? Então tem que ir para outra". Somos literalmente uma sociedade fast-food, inclusive com os sentimentos. Rápido, fácil e descartável.

Quando comecei esse blog defini que teria que escrever textos curtos, nada muito longo, porque estamos todos acostumados - inclusive eu, a desperdiçar pouco tempo com as coisas, o que quer que sejam.

Trabalhei em uma ONG um tempo atrás e em uma das reuniões discutimos o motivo das drogas estarem em tanta evidência. Nada mais óbvio do que perceber a característica fast-food das drogas. Antes, as pessoas trabalhavam menos, tinham mais espaço e possibilidades de retirar prazer e conforto de diversas situações, como passeios no campo, esportes, praias. Hoje, nós temos cerca de 4 horas em uma noite de sexta para curtir o máximo e mais rápido possível. Ou seja, temos que alcançar um prazer concentrado, que também acabe rápido.

O problema é que essa característica se tornou um hábito generalizado para nós. Quem quer perder tempo com a construção lenta e gradual das coisas? Quem investe num relacionamento para curtir posteriormente? Quem tem paciência de esperar o tempo das coisas?

Felicidade não é para mim a extensão da alegria. Felicidade é o equilíbrio das forças naturais, nossas e dos outros. E é exatamente o que faz com que as tristezas e decepções sejam somente tristezas e decepções e não pareçam com o fim do mundo.

A tristeza e o problema estão contidos na felicidade, são parte dela também.

Como disse minha mulher no meio de um monte de problemas: e somos felizes!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Bate-papo com CHINA - parte 1

CHINA é um cara de Olinda, virado no mói de quento, com uma energia da gota, que desde o começo chamava atenção pelo olhar, pelos pulos e pela entrega. Da extinta banda Sheik Tosado, herdou a capacidade de perceber seu potencial. E assim se fez: já vai para o terceiro disco solo, show incontáveis com o projeto Del Rey e um currículo tão extenso que não dá pra citar sem incomodar os leitores com tanta informação. Mas mais do que conquistas profissionais, conseguiu o feito de virar uma referência no trato pessoal e o apelido (inventado agorinha) de Forrest Gump pernambucano - o cara que está em todas, ao lado de todos e vai inventar de abrir a boca para falar mal dele na rua pra ver a zica que dá.

CHINA é um cara pra frente, que olha pra frente e se encaminha pra frente. Abaixo a primeira parte desse bate-papo sobre trabalho, família e diversão.

Qual o seu ofício?

Acredito que meu ofício no mundo é tentar passar o conhecimento que venho aprendendo, dividi-lo com as pessoas e cuidar dos meus moleques antes de qualquer coisa. E profissionalmente me divido em mil coisas. Acho que hoje em dia a carreira artística faz você ter várias possibilidades e não uma só. Você não precisa ser só músico se tem potencial para ser músico e ser jornalista, ou pra ser músico e ser apresentador de TV, ou pra ser músico e ser técnico de estúdio, ou roadie ou o que for. É uma profissão que abre um leque grande. E quando o nego se pergunta se vai ganhar dinheiro com música, acho que fatalmente você vai ganhar se tem dedicação.

O que você faz melhor?

Puxa, acho que escrever. Mais do que cantar, mais do que trabalhar em estúdio, acho que é o que mais me identifico. A hora que consigo falar mais de mim e de tudo que vi durante o dia, muito confessional. Costumo escrever como um diário. Quando eu era moleque com meus 13 pra 14 anos, não tinha tantos amigos assim, curtia escrever e nenhum dos meus amigos curtia. Nessa época eu já ouvia um tipo de música diferente... ia sim, também, para os forrós, para os pagodes porque para azarar as meninas você tinha que ir, mas não tinha muito amigo pra trocar, e aí comecei a escrever. Acho que isso me ajudou em vários momentos a superar vários problemas, talvez nem superar, mas colocar pra fora.

E a música onde entra nisso tudo?

Bem, no meu caso foi uma conseqüência. Eu escrevia bastante, gostava de música e tinha um irmão que já tocava em bandas. De repente ele saiu da banda que tinha, eu mostrei os poemas que eu tinha pra ele, que curtiu bastante, e acabamos montando o Sheik Tosado.

O que você queria nessa época?

Que meus poemas virassem música, que as pessoas entendessem o que eu queria passar. Na real, não era nada muito sério. Mas cerca de um ano depois a coisa virou séria. Pintou gravadora, e eu com 17 anos me vi empregado num grupo forte, ganhando dinheiro com minha música, viajando com ela. Foi um caminho muito fácil, natural. Sei que a vida artística ilude muito o cara. A pessoa tem tudo mais facilitado, tem a liberdade de trabalhar a hora que quiser. Inclusive a maioria não faz isso e trabalha só quando tem que trabalhar, o que eu acho errado, acho que o artista tem que trabalhar toda hora pensando em coisas produtivas para os eu trabalho porque a grande vantagem é que você só depende de você.

O que te movia e move na arte?

O primeiro show que fiz que eu vi a galera batendo palma e as pessoas parando para me ver eu senti um poder fora do normal. Você ter o controle de tudo que está acontecendo no local. Você disser: “agora todo mundo levanta a mão”, e todo mundo levantar a mão. Ou pedir para todos irem para a direita e todos irem para a direita. Isso é muito forte e tem que ter bastante cuidado porque você está com o microfone que é uma arma ali. Tem que ter cuidado mesmo porque aquela atmosfera pode também se virar contra você.

Sem contar que acaba rápido.

Exatamente. É, acaba rápido.

O que moveu aquele menino de 16 anos então foi essa força?

Eu acho que sim. Você tá querendo me levar nas perguntas (risos), mas acho que é isso mesmo.

E hoje o que te move?

A mesma coisa, porque ainda curto muito estar no palco. Mas como a vida passa e você vai adquirindo outras coisas, hoje não é só isso. Sempre que estou no palco hoje lembro dos meus filhos, da minha esposa – lembro bastante dela porque a maioria das coisas que escrevo são para ela. Hoje em dia, então, estar no palco tem uma atmosfera muito maior porque me emociono mais. E assim acabo me entregando mais e virando um interprete muito melhor, eu acho. Lembro que vi uma entrevista com Maria Betânia onde o jornalista perguntava se ela não compunha e se “só” cantava. E ela respondeu: como assim eu só canto? Eu estou ali entregando meu corpo, minha alma, tudo.

Então, meu tempo de estrada me fez aguçar muito mais o sentido do palco. Hoje sou mais ligado e centrado do que o “porra louca” que eu era quando tinha 16 anos.

http://www.myspace.com/chinaina

terça-feira, 6 de abril de 2010

Espiritismo

Eu fui bastante melancólico quando novo. Algumas de minhas dores viviam pela razão e pelo histórico que carregava e outras pelo simples prazer do papel da vítima. Em determinado momento, acuado por alguns desses sentimentos, minha mãe sugeriu com doçura:

- Filho, se eu indicar um livro você me promete que lê? Era "O livro dos espíritos". Como sempre cumpri promessas li o livro até o fim, sem pular parte alguma.

Esse foi sem dúvida um dos primeiros livros que mudou minha vida - outros posteriormente continuaram essa dádiva de me atingir em cheio. Li o "Livro dos Espíritos" e me senti em casa. Era direto, seco, objetivo, humilde, claro, preciso, revelador, agregador e o mais grandioso de tudo, não pretendia carregar em si uma verdade absoluta, se denominava temporário.

Puxa!, quando li que aquelas eram verdades naquele instante e que depois outras verdades iriam unir-se a ela e formar novas afirmações, vi que deveria trilhar aquele caminho. Enfim, alguém abaixava a cabeça para levantar-se por completo.

Depois desse encantamento me dediquei ao que pude a doutrina, li bastante, frequentei durante anos. Embora hoje não me considere mais um espírita atuante, carrego várias marcas da bondade e do olhar fraterno que essa doutrina trouxe ao mundo.

Não fui e não sou um admirador do fetiche do espiritismo, como saber das aparições, do que as cartas revelam, de quem fomos em outras vidas, de ver algo e essas coisas todas. Acho isso muito pouco frente ao sentimento que pulsa em um centro.

Um centro espírita é antes de tudo um agregador de sentimentos religiosos. Onde pessoas dispostas a aprender e com o coração aberto andam, evoluem e se abraçam. O espiritismo é cristão, é judeu, é muçulmano, é budista, é até pagão. O espiritismo não idealiza a forma, valoriza, sim, o conceito, o pensamento, a energia e a intenção que resulta na ação.

Para o espiritismo mais cedo ou mais tarde todos alcançarão o paraíso interno, TODOS. Não é magnífico?


quinta-feira, 1 de abril de 2010

Eu e a poesia

De ontem para hoje fui novamente tomado da vontade de ser e fazer poesia (na sua forma mais crua). Relembrei Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos(com o dedo de Vítor), Manuel, e tantos ainda mais voltam a mim - ou eu volto a eles. Resolvi abrir alguns dos meus escritos ainda guardados esperando alguma chuva ou sol.

Vou publicá-los aqui no meu blog porque não conheço editora melhor (e nem leitores melhores).

Na minha história de vida (bem curta ainda), lembro claramente quando comecei a aprender música, violão e quando aprendi a cantar, embora ainda esteja aprendendo. Tinha exatos 15 anos quando me interessei pelo violão, e 16 quando resolvi me esforçar a diminuir a minha desafinação.

O engraçado é que definitivamente não lembro quando comecei a escrever poesia, textos e escritos poéticos. Tenho a impressão que foi desde sempre, ou até antes de sempre. Quando criança, lembro, ansiava dominar a leitura para poder ler os gibis da Mônica. Pedia incansavelmente, todos os dias, para meu irmão mais velho ficar lendo para mim, o que o cansava bastante.

Acredito que antes de saber escrever já devia recitar coisas na minha própria cabeça. E antes de ser gente, minha energia pulsante no universo devia vibrar junto com esse ritmo que tanto me conforta.

Não sei bem se o faço bem hoje em dia, e nem me importo tanto mais assim. Mas o faço, sim, como se houvesse mais nada a fazer e com todo o meu corpo presente.

Em breve, alguns escritos e poemas.