sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Coisa pequena

Ontem estava no meio da confusão de um dia atolado de compromissos entre um bairro e outro lotado de gente estressada dentro de carros barulhentos e apressados daqueles que não permitem nem que o vento passe a sua frente empurrando as pessoas com gritos e caras preocupadas para dentro de um mesmo sistema preocupado com tudo que pode acontecer de ruim e destruidor mesmo na ínfima possibilidade ou numa referência louca de alguém que já presenciou o tal medo inventado quando de repente assim meio que de repente eu resolvi fazer um lanche  e parei

na frente do Parque da Jaqueira em Recife tive a sensação que as vírgulas vivem, que o ritmo é algo individual, que os sons podem inclusive ser selecionados, e no Parque da Jaqueira ali mesmo onde estava ouvi um passarinho,

com ele ouvi um monte de coisas mais, ouvi um ponto de final. E respirei.

Parágrafo.

Ouvi as folhas das árvores.

E talvez até não acreditem em mim, mas eu ouvi as plantas crescendo lentamente sem objetivo, pressa ou medo algum.

Pedi uma melancia.
Comi uma melancia.
E voltei.

Até entendo que o trânsito continuava desesperado por algo desconhecido ou coisa do tipo e todos pavorosos com a possibilidade de um pavor que podia chegar a qualquer momento desses que assusta quem se assusta mas para mim embora nada tivesse mudado agora tinham um gostinho de melancia.

Quer dizer, gosto de melancia ao som de passarinhos.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Para começar a semana

Um texto inspirado para nos inspirar a última semana do ano:




O que você salvaria


Um jornalista foi entrevistar Jean Cocteau. Sua casa era um verdadeiro amontoado de bibelôs, quadros, desenhos de artistas famosos, livros. Cocteau guardava tudo, e tinha um profundo amor por cada uma daquelas coisas.

Foi então que, no meio da entrevista, perguntou: “se esta casa começasse a pegar fogo agora, e você só pudesse levar uma coisa consigo, o que escolheria?”

- E o que Cocteau respondeu? – pergunta um amigo e grande estudioso da vida do artista francês.

- Cocteau respondeu: “Eu levaria o fogo”.

E ali ficamos todos, em silêncio, aplaudindo no íntimo do coração a resposta tão brilhante.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O sentido do Natal

Precisamos hoje recuperar o verdadeiro sentido do Natal, o que ele realmente representa e entender que o Natal é..........

..........que nada!

Não precisamos fazer "sentido" feito militares. Não precisamos comungar obrigatoriamente do sentido que certas pessoas carregam. Não temos compromisso inadiável com ninguém. Estamos livres.

E por isso, meu senhores, se quisermos, esse é um momento de sensibilidade. Um momento onde diversas pessoas abrem a porta onde guardam emoções diversas, e preferencialmente emoções boas.

Então o que temos de melhor a fazer é sentir as boas vibrações e curtir...curtir.

Sem peso. E o principal: sem culpa!

Considero o Natal e o Ano Novo festa de sensibilidade direcionada. Um oportunidade massa de entrar em boa conexão com pessoas diversas.

Boa festa (no sentido "festa" da expressão)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vários caminhos

- Sabe o que eu acho? Eu acho que fidelidade por parte do homem é quase impossível. Quer dizer, é possível na falta de oportunidade.

- Como assim?

- O homem sente necessidade de ampliar, de deixar um pedaço seu em cada canto do mundo. Faz parte da natureza, é instinto.

- Entendo o que você diz. Mas você acha que não tem saída?

- É que um homem não consegue ficar apenas com uma mulher sabendo que todas as outras o clamam também.

- E se a mulher que ele está representar todas as outras?

Meu amigo calou-se.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ensinando cavalo a voar

Como sempre faço as segundas, segue um texto rápido para nos inspirar a semana:


ENSINANDO O CAVALO A VOAR

Um velho rei da índia condenou um homem a forca. Assim que terminou o julgamento, o condenado pediu:

- Vossa Majestade é um homem sábio, e curioso com tudo que os seus súditos conseguem fazer. Respeita os gurus, os sábios, os encantadores de serpentes, os faquires. Pois bem: quando eu era criança, meu avô me transmitiu a técnica de fazer um cavalo branco voar. Não existe mais ninguém neste reino que saiba isto, de modo que minha vida deve ser poupada.

O rei imediatamente mandou trazer um cavalo branco.

- Preciso ficar dois anos com este animal – disse o condenado.

- Você terá mais dois anos – respondeu o rei, a esta altura meio desconfiado. – Mas se este cavalo não aprender a voar, será enforcado.

O homem saiu dali com o cavalo, feliz da vida. Ao chegar em casa, encontrou toda a sua família em prantos.

- Você está louco? – gritavam todos – Desde quando alguém desta casa sabe como fazer um cavalo voar?

- Não se preocupem – respondeu ele. – Primeiro, nunca alguém tentou ensinar um cavalo a voar, e pode ser que ele aprenda. Segundo, o rei está muito velho, e pode morrer neste dois anos. Terceiro, o animal também pode morrer, e eu conseguirei mais dois anos para treinar um novo cavalo. Isso sem contar a possibilidade de revoluções, golpes de estado, anistias gerais.

“Finalmente, se tudo continuar como está, eu ganhei dois anos de vida, onde posso fazer tudo o que tenho vontade: vocês acham pouco? “

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Confronto

As vezes, fugir de um confronto é concordar com ele.

Sou devoto do custo benefício, da medição do que vale e do que não vale a pena na vida.

Uma disputa em várias oportunidades não vale o prêmio. É como gastar mil reais para ganhar quinhentos. Não justifica.

Mas existem exceções. E mesmo os mais zens, tranquilos, pacatos, pacificadores tem de tomar posições.

Em uma conversa com o terapeuta:

- Mas se eu confrontar isso vai dar uma grande merda, perguntei angustiado.
- Uma merda meu caro já deu. Só está na hora de coloca-la no devido lugar.

Fugir de um confronto por não concordar com ele é um belo caminho e por vezes requer mais força do que vencê-lo. Mas fugir de um confronto por fraqueza e medo é outra história.

Nós também somos fogo. E o fogo também é vida.

"Ninguém se liberta da escravidão do seu agir pelo fato de não agir. E ninguém atinge a perfeição interior só por desistir da atividade externa". (Bhagavad Gita)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma poesia de presente

Chegado os momentos de sensibilidade, Natal, virada do ano, resolvi abrir um pouco a minha caixa de Pandora. Resolvi dar alguns presentes aqui no blog também. Presentes poéticos como não podia deixar de ser.

Esse poema que publico agora, foi escrito como presente para um grande amigo irmão no dia que ele casou. E devidamente lido no ato do casório.

Eu gosto dele. E agora, presenteio vocês:


Raízes e asas
                              Para Tiago e Gabriela Bacelar

De onde viemos, senhores?
dos santos? dos céus?

A mais pura harmonia?
Viemos de quem ia e foi?
Viemos de arroz jogados na saída?
Viemos de abraços?
Despedidas?

Viemos de uma saudade imensa
de uma sede sem fim
ou até de algo ruim
mas puro

que a sua essência é sempre pura.

Viemos do que dura
mesmo quando morre
viemos de porres e mais porres
de beijos intermináveis.

Viemos de coisa estáveis
ou de atitudes menos nobres
mais viemos não de cobres
mas pele: osso: sangue :paixão:

De um homem e de uma mulher

que é o que é

e que são.


Viemos de irmãos e de amantes
antes
bem antes
quando eles sonhavam com a gente

viemos um tanto dementes
e as coisas mais fofas do mundo inteiro.

Os nossos laços e muitos dos abraços
muito do que temos
nós foi dado

(talvez tudo)

Sabemos de nossas raízes, então
resta saber das nossas asas.

Resta ver tanto que passa
resta abraçar tudo que é da gente.

Viemos de dois
e somos um
viemos de um segundo
e somos anos e anos de eternidade.

E nunca, para nos, é tarde
porque somos tudo que do universo arde
em nós
em nosso peito.

Entendido tudo o que sabido

resta saber das nossas asas.

Destinados a voar
restar saber de nossas asas.

Destinados a descobrir os céus
resta saber de nossas asas

Destinados à felicidade
resta saber de nossa casa.

A nossa casa abriga o vento
guarda o azul
limpa o terreno
deixa crescer a planta
e colhe os frutos.

A nossa casa assim sem muros
mas cheia de braços abertos
a nossa casa que é direto para o coração

que é irmão e que é amante

a nossa casa que também é como antes
a nossa casa que também é adiante.

Deitado com tua mulher
em teu peito guardada como abrigo
eis as tua asas (que já existiam)
eis o teu sentido.

Sentado ao teu lado
vê desmascarado teu parceiro
ele é a chave e é a porta
e ele é agora o mundo inteiro.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Presentes de Natal

Um cheiro

Uma declaração de amor de um amigo

Disco dos Beatles

Um abraço apertado

Beijo surpresa

Uma camisa engraçada

Livros variados

Um jantar feito especialmente para você

Um vinho

Uma cueca samba canção

Uma foto

Discos variados

Um pedido de desculpas

Poesia

Enfeites para a casa

Enfeites para a alma

Um perdão inesperado

Um abraço em conjunto

Uma planta

Uma receita

Um cheiro.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O fascínio do problema

Aqui vai mais um texto para começarmos a semana intrigados. Boa semana a todos:


O fascínio do problema

O Grande Mestre e o Guardião dividiam a administração de um mosteiro zen. Certo dia, o Guardião morreu e foi preciso substituí-lo.

O Grande Mestre reuniu todos os discípulos para escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seu lado.
- Vou apresentar um problema – disse o Grande Mestre. – E aquele que o resolver primeiro, será o novo Guardião do templo.

Terminado o seu curtíssimo discurso, colocou um banquinho no centro da sala. Em cima estava um vaso de porcelana caríssimo, com uma rosa vermelha a enfeitá-lo.

- Eis o problema – disse o Grande Mestre.

Os discípulos contemplavam, perplexos, o que viam: os desenhos sofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegância da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria o enigma?

Depois de alguns minutos, um dos discípulos levantou-se, olhou o mestre e os alunos a sua volta. Depois, caminhou resolutamente até o vaso, e atirou-o no chão, destruíndo-o.

- Você é o novo Guardião – disse o Grande Mestre para o aluno.

Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou:

- Eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. Não importa quão belo e fascinante seja, um problema tem que ser eliminado.

“Um problema é um problema; pode ser um vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que já não faz mais sentido, um caminho que precisa ser abandonado - mas que insistimos em percorre-lo porque nos traz conforto.

“Só existe uma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente. Nessas horas, não se pode ter piedade,

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um tema que deu o que falar

Bem, alguns posts atrás escrevi sobre propaganda e lá citava que vejo o mundo se humanizando e que a propaganda teria que uma hora ou outra acompanhar esse movimento. Aí uma leitora amiga deu a opinião que não via o mundo tão humanizado assim e eu escrevi outro post sobre isso (logo embaixo). O que de cara deu o que falar. Assim, resolvi escrever mais esse post sobre o mesmo assunto, o otimismo.

As colaboradoras Mag e Maya ressaltaram os enormes problemas que temos, a imensa falta de educação, o olho cego que deixa as coisas crescerem a revelia, a falta de vontade, a falsa democracia, o subtexto social, a indiferença, a descrença, o medo, a ignorância e tudo aquilo que vemos comumente Brasil afora.

Bem, eu queria dizer, ressaltar, que eu concordo com tudo. Vejo isso também. É óbvio que o nosso país é cheio de vícios arcaicos que nos atrasam e sustentam em posições desagradáveis. Mas isso não significa negar avanços.

Para refletir esse tema gostaria de fazer uma pergunta: qual o nosso objetivo?

Fazendo um paralelo, toda vez que converso com uma pessoa magoada ou bastante ciumenta sobre o algoz em questã faço essa mesma pergunta: qual o seu objetivo? Isso porque muitas vezes o objetivo é simplesmente derrubar o outro, vencer, mostrar que está certo, acusar...sei lá. Quantas vezes isso já aconteceu?:

- Você falou com ela não foi? Eu vi!
- Puxa amor, é que cruzei e ia ficar chato se não falasse.
- Até parece, você bem que gostou. Admita, vá!
- Olha, então daqui em diante eu não falo mais e pronto. Viro a cara mesmo. Tá bom assim?
- Não, de jeito nenhum. Se você virar a cara ela vai perceber e achar que eu mandei você não falar com ela.
- Uai, e o que você quer então?
- Ai como você não entende nada.

No caso dos problemas brasileiros precisamos nos ater ao nosso objetivo. Nosso objetivo é obter melhoras?  Mudança de postura? Um aprimoramento na educação social do nosso povo? Uma postura mais adequada dos políticos? Se esse é nosso objetivo precisamos reconhecer os nosso avanços e incentivá-los ainda mais.

É como a criança que tira nota 2. Ela leva bronca, se esforça e consegue um 5. E aí? Continua a bronca:

- Tirou 5. Nota baixa de novo? Você sempre com essas notas? Olha, acho que não tem jeito.

Ou aplaude e exige um pouco mais?:

- Muito bem meu filho. Já vemos que o seu esforço deu resultado. Agora precisamos chegar na média 7 e com um pouquinho mais de dedicação, quem sabe, chegamos a mais de 8, hein?

É assim que penso o Brasil. Um país que começou a tentar tirar uma nota mais alta. Ainda estamos abaixo da média e distante das notas premiadas. Mas saímos do zero e eu prefiro elogiar esse garoto incentivando-o a ter mais dedicação ainda.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Brasil otimista

Dois posts atrás, estava falando sobre propaganda e afirmei que acreditava que com o caminho atual da sociedade a propaganda seria obrigada a se adaptar a novos conceitos mais humanos. Uma amiga leitora ressaltou o meu lado otimista e disse que não via a sociedade como eu. Bem, queria explicar melhor o meu ponto de vista, porque vejo com bons olhos o futuro (queria também agradecer a minha amiga que ao dar sua opinião sincera nos coloca em rica troca de informações e ainda me põe pra pensar mais).

A referência exagerada acaba com qualquer ponto de vista positivo. Pensar no Brasil em comparação com a Suíça, Alemanha, Inglaterra e similares é mesmo desesperador. São países plenamente desenvolvidos e educados socialmente e hoje assumem problemas diferentes dos nossos. Estamos em outro patamar. É necessário que olhemos um pouco para o nosso próprio umbigo.

Pensando em Brasil acho que melhoramos muito e em pouco tempo. Tenho vários exemplos para isso.

Lembro que quando criança era comum jogar lixo pela janela do carro, qualquer coisa. Todos jogavam, com raríssimas excessões. Hoje, é exatamente o inverso. E quem se atrever a tais atos despreocupados corre o alto risco de levar um esculacho no meio da rua (e já vi isso acontecer várias vezes).

Outro dia, fui escovar os dentes na casa do meu irmão e o meu sobrinho de 5 anos ficou fulo da vida comigo, reclamando em alto e bom som porque eu estava gastando a água do planeta sem cuidado (não fechei a pia enguanto escovava). Fiquei abismado com aquilo:  -É a escola rapaz, explicou a mãe do danado.

Na minha geração quase todos levaram palmadas ou verdadeira "pisas" dos pais. Era normal em meninos trelosos. Eu apanhei um bocado (sem maldade e sem força alguma, mas o psicológico da palmada e do grito). Quem em outros tempos nunca viu um menino levando umas palmadas em lugares públicos? Agora, desafio, vai tentar dar umas palmadas no teu filho no meio do Shopping. É capaz de ser presa e tudo. Ou seja, o cuidado ficou maior.

Xingar ou desmerecer publicamente um negro é crime. Daqui a mais um pequeno tanto, fazer o mesmo com homossexuais será também. Mulheres tem uma delegacia especializada e quem se atrever a bater nelas vai direto pro xilindró.

É proibido andar armado e quem for pego com armas tá fudido. A legislação no transito está rigorossísima. Nem um gole de álcool é tolerado na direção. E até na política estamos vendo como nunca as escrotices divulgadas a revelia dos chefões que sempre as escondiam do nosso conhecimento. E por fim, sem politicagem, e sem saber se será um bom governo ou não, uma ex-militante torturada e presa assumiu o mais alto cargo do país - e agora temos de fato mais de um grupo em disputa pelo poder do país, o que nos dá um real conceito democrático: a disputa.

Puxa, isso não é um bom caminho?

Claro que nenhuma dessas melhoras está em excelência. Várias ainda cheias de defeitos, parcialmente realizadas, com diversas excessões. Mas, caramba, agora elas existem. Antes eram apenas prospecção, sonho, imaginação. Hoje é uma realidade que trabalhamos para ampliar, melhorar, estender. Conquistamos algo, precisamos reconhecer nossos méritos.

Pensando na França estamos muito longe. Mas, gente, pensando em Brad Pitt eu sou um cara horroroso e em Mozart um desgraçado sem talento. Então, olhando para o meu umbigo um pouco e entendendo minhas limitações, eu sou até bonitinho.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A mulher perfeita

Uma pequena história para nos inspirar no início da semana. Boa semana a todos:



A MULHER PERFEITA

Nasrudin conversava com um amigo.

- Então, mullah, nunca pensaste em casamento?

- Já pensei - respondeu Nasrudin. - Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. Atravessei o deserto, cheguei em Damasco, e conheci uma mulher espiritualizada e linda; mas ela não sabia nada nas coisas do mundo.

“Continuei a viagem, e fui a Isfahan; lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do espírito, mas não era bonita. Então resolvi ir até o Cairo, onde jantei na casa de uma moça bonita, religiosa, e conhecedora da realidade material.

- E por que não casaste com ela?

- Ah, meu companheiro! Infelizmente ela também procurava um homem perfeito.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Propaganda vazia

Ontem estava escutando o programa esportivo na rádio quando entrou a propaganda da Fiori, uma loja de carros em Recife. O locutor (que era um vendedor) anunciava uma oferta: um carro X por um preço Y (não lembro agora os valores e afins). Pois bem, era um preço médio, nem caro, nem barato, igual aos outros preços das outras lojas. No entanto, ele berrava:

- Não perca. É incrível. Só isso o preço? Meu Deus do céu. Corra logo para cá....e coisas do tipo.

Na minha mera opinião isso é um grito a esmo no vento. Esse tipo de propaganda acabou, passou. Está com os dias contados.

Eu penso que a publicidade é um mensagem direcionada e amplificada, e não um pacote vazio por dentro. O intuito da comunicação de um produto é encontrar o possível cliente, que está ali, que tem interesse, que vai gostar daquilo ou tem potencial para gostar. Puxa, aquela imagem do empresário que monta algo cheio de falhas, tudo errado, tudo de mentira e vende com uma puta maquiagem para ficar rico e fugir para a Suíça é passado.

Quer fazer propaganda do seu negócio? Procure o que ele tem de melhor, qual o diferencial dele, o que faz com que o negócio funcione, tenha clientela e renda. Vai fazer a campanha de uma faculdade? Coloca alguém que estudou lá mesmo. Outro dia vi o outdoor de uma faculdade com um amigo que nem sequer tinha feito faculdade. Isso fica vazio. Dura um leve tempo somente e despenca.

Acho que em um tempo onde as pessoas se encaminham para a harmonia, para o controle social, o cuidado com o meio ambiente e com o outro, a publicidade irá também comungar desse viés.

Como? Uai, fazendo uma campanha densa, com verdades. Pesquisando na empresa o que atrai os clientes de fato, o que a empresa oferece de melhor, que diferencial é possível ampliar ali. Se a empresa passa por uma crise é bem mais fácil consertar os vazamentos antes, aparar as arestas internas. A comunicação não transforma sapos em príncipes, ela encontra quem ame sapos.

Afinal, é muito mais barato corrigir pequenos erros em uma empresa do que inventar, ampliar e sustentar uma inverdade.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nem tanto nem tão pouco

Um pequeno texto para inspirar nossa semana:


O caminho do meio

O monge Lucas, acompanhado de um discípulo, atravessava uma aldeia. Um velho perguntou ao asceta:
- Santo homem, como me aproximo de Deus?
- Divirta-se. Louve o Criador com sua alegria - foi a resposta.

Os dois continuaram a caminhar. Neste momento, um jovem aproximou-se.
- O que faço para me aproximar de Deus?
- Não se divirta tanto - disse Lucas.

Quando o jovem partiu, o discípulo comentou:
- Parece que o senhor não sabe direito se devemos ou não devemos nos divertir.
- A busca espiritual e' uma ponte sem corrimão atravessando um abismo – respondeu Lucas. - Se alguém esta' muito perto do lado direito, eu digo 'para a esquerda!' Se aproximam-se do lado esquerdo, eu digo 'para a direita!'. Os extremos nos afastam do Caminho.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um post danado de óbvio

As vezes me pego tendo o maior dedo do mundo para escrever um post aqui nesse blog. Passo um tempo pensando, observo as coisas na rua, os jornais, notícias, observações de outros. E fico procurando um tema claro, preciso e interessante. As vezes sento e começo a escrever algo mas acho bobo, óbvio demais. Deleto e me ponho a pensar de novo.

Passo pelas esquinas e incito conversas variadas na esperança de que um assunto qualquer possibilite um post e tanto. Um daqueles post bonitos, onde eu possa receber belos e carinhosos elogios, um espaço onde a veia poética pulse a vontade, livre, onde o talento que carrego possa se desenvolver e evoluir. Um daqueles post disposto a mudar o mundo.

Paro e penso.

Passam-se dias e eu parado. Penso.

E a busca por um post excepcional acaba por se tornar um post vazio. E dias sem post algum.

Pois é. Assim como na vida é necessário abraçar o óbvio e "amar o transitório" vez por outra.

E eu percebi que muitas vezes espero um assunto excepcional para viver. Que besteira minha.

Eis um post muito do bobo. Que preenche a vida com sentido através de palavras óbvias. Comum. Mas vivo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre os ataques a gays e correlatos

Recebi um email spam religioso criticando o homossexualismo e abominando o casamento gay. Esse email falava que as coisas estavam perdendo o rumo, que a família estava sendo desmoralizada e que pessoas do mesmo sexo juntas não era algo natural. Nessa mesma semana um grupo de adolescentes atacou em São Paulo pessoas a esmo por serem gays.

Puxa, se tem uma coisa que me irrita é isso.

Acho engraçado como os discursos conservadores e preconceituosos se repetem. Eles se adaptam a novas vítimas com os mesmos argumentos. É antigo, arcaico e é sempre fruto de um medo terrível do desconhecido.

O homossexualismo é uma opção individual. "Mas não é natural", dirão alguns. E o que é natural hoje em dia? Por acaso a mulher tomar pílula para não engravidar e fazer sexo apenas por prazer é natural? Não, absolutamente não é nem um pouco natural.

"Se fosse assim Deus não teria feito o homem e a mulher". Essa é uma falácia gigante. Se fosse assim Deus nos teria feito com assas e no entanto o homem criou o avião e voamos. Talvez Deus nos tenha feito para descobrir as coisas, inclusive internas: das nossas vontades e dos nossos potenciais.

Uma vez estava conversando com um evangélico sobre o tema e ele me veio com essa:

- Olhe, para mim tudo que não faz bem ao corpo é pecado.

Eram duas horas da tarde e estávamos sob um sol escaldante sem protetor solar. Perguntei então:

- Estais pecando agora não é amigo?

O pensamento limitado é um perigo gigante para os bons sentimentos.

Quantas coisas já apareceram como dano iminente a sociedade sã e depois se tornaram parte querida dela. O próprio Jesus foi atacado com os mesmos argumentos e através do mesmo medo.

Não sou defensor do homossexualismo em si, sou defensor das pessoas.

Acho que cada um deve seguir os caminhos e arcar com suas benesses e resultados.

Conversando com um amigo pastor sobre temas correlatos ouvi diversas e belas citações da bíblia:

- Você acredita no dia do juízo final, na sua prestação de contas, no julgamento. E você acha que nesse instante, de frente ao criador, ter mais ou menos frases decoradas irão auxiliá-lo?

- Não.

- Você acha que alguma coisa que você disser, qualquer coisa, irá auxiliá-lo?

- Não.

Então meus amigos, ao proferir ataques a homossexuais ou ao que quer que seja analisem que sentimento brota no seu peito. Porque o ódio, a raiva e a incompreensão não são sentimentos religiosos e fazem mais parte dos pecadores do que dos defensores do amor maior.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O sonho de ser artista

Outro dia estava lendo o jornal e me deparei com um trecho falando da saga de uma atriz que se mudou para o Rio de Janeiro com o "sonho de ser artista". Fiquei com isso na cabeça e lembre das palavras de Rainer Maria Rilke.

Porque sonhar em adquirir algo que é seu?

Acho que a mídia e toda a indústria que trabalha com arte confunde um tanto a cabeça da gente. Vamos separar uma coisa muito importante: uma coisa é ser artistas e outra coisa é ter grande respaldo público e financeiro no MERCADO que trabalha com a arte.

Ter o clamado sucesso não tem nada a ver com ser artista ou não. O sucesso é apenas símbolo de boas vendas, produtos bem arranjados, bons vendedores, boa loja, boa publicidade, apresentação pública bem direcionada ao público alvo e coisas outras mais específicas. Essa é a primazia do sucesso na indústria.

Até chega a parecer que artista é quem adquiriu dinheiro e visibilidade. Será?

Quem busca o sucesso achando que busca a arte começou a andar para trás.

Em determinado momento, Chico Buarque chega com um novo disco e o apresenta para a gravadora com uma capa artística, sem foto nem nada:
- Mas Chico, assim, sem você na capa, não vai vender nada.
- Olha, deixa eu te explicar uma coisa. Eu sei fazer discos. O seu trabalho é vendê-los. Então venda, isso não tem nada a ver comigo.

Picasso quando novo (muito novo) começou a pintar quadros clássico religiosos e ocupou um lugar de destaque na pequena cidade onde morava. De repente parou tudo e iniciou nova perspectiva artística. Alcançou respaldo em várias fases, mas sempre mudava e iniciava nova busca. Chegou a inventar o Cubismo que o consagrou publicamente no mundo inteiro. De repente parou tudo e iniciou uma nova perspectiva artística. Fez isso uma dezena de vezes, porque seu vínculo sempre foi com a arte e nunca com o mercado. Picasso não escolhia as cores pelo preço da tinta.

Para Rilke fazer arte é uma questão interna, própria, de necessidade: "pergunte a si mesmo se morreria se lhe fosse proibido produzir arte. Se a resposta for sim, se você acha que morreria, então direcione toda sua vida a partir dessa necessidade".

Não digo isso desmerecendo o mercado, de forma alguma. Mas é esclarecedor pensar que o mercado vem depois da arte e nunca antes. O mercado não produz, não realiza obras, ele apenas as comercializa.

Então que sonhem em obter espaço no mercado das artes, que sonhem em ter suas obras publicadas, que sonhem em ter suas atuações assistidas, suas músicas tocadas, seus quadros expostos.

Mas não sonhem em se tornar artistas, assumam-se somente. Ou não.

Copiado na internet, endereço aqui

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma pequena história para começar a semana

Como eu gosto de fazer no começo da semana, segue um texto para nos alimentar as sensações.

Boa semana a todos:


AFASTANDO OS FANTASMAS

Durante anos, Hitoshi tentou – inutilmente – despertar o amor daquela que acreditava ser a mulher de sua vida. Mas o destino é irônico: no mesmo dia que ela finalmente o aceitou como futuro marido, também descobriu que estava com uma doença incurável, e não deveria viver por muito tempo.
Seis meses depois, já a beira da morte, ela pediu:

- Você vai me prometer uma coisa: jamais se apaixonará de novo. Se fizer isso, voltarei todas as noites para assombra-lo.

E fechou os olhos para sempre. Durante muitos meses, Hitoshi evitou aproximar-se de outras mulheres, mas o destino continuou irônico, e ele descobriu um novo amor. Quando preparava para casar-se, o fantasma da ex-amada cumpriu sua promessa, e apareceu.

- Você está me traindo – disse.

- Durante anos eu lhe entreguei o meu coração, e você não me correspondia – respondeu Hitoshi. – Não acha que mereço uma segunda chance de ser feliz?

Mas o fantasma da ex-amada não quis saber de desculpas e, todas as noites, vinha assusta-lo. Contava em detalhes o que tinha acontecido durante o dia, que palavras de amor ele dissera a sua noiva, quantos beijos e abraços haviam trocado.



Hitoshi já não podia mais dormir, e foi procurar o mestre zen Bashô.

- É um fantasma muito esperto – disse Bashô.

- Ela sabe tudo, nos menores detalhes! E já está levando o meu noivado ao fim, porque não consigo dormir, e, nos momentos de intimidade com minha amada, fico constrangido.

- Vamos afastar este fantasma – garantiu Bashô.

Naquela noite, quando o fantasma retornou, Hitoshi interrompeu-o antes que dissesse a primeira frase.

- Você é um fantasma tão sábio, que vamos fazer um trato. Como você me vigia todo tempo, vou perguntar algo que fiz hoje; se acertar, eu largo minha noiva e nunca mais terei mulher alguma. Se errar, você promete não tornar a aparecer, sob pena de ser condenada pelos deuses a vagar para sempre na escuridão.

- De acordo – respondeu o fantasma, confiante.

- Esta tarde, eu estava na mercearia, e, em determinado momento, peguei um punhado de grãos de trigo de dentro de um saco.

- Eu vi - disse o fantasma.

- A pergunta é a seguinte: quantos grãos de trigo eu segurei?

O fantasma, na mesma hora, entendeu que não conseguiria jamais responder à pergunta. Para evitar ser perseguido pelos deuses na escuridão eterna, resolveu desaparecer para sempre.



Dois dias depois, Hitoshi foi até a casa do mestre zen.

- Vim agradece-lo.

- Aproveite para aprender as lições que fazem parte desta sua experiência – respondeu Bashô.

“Em primeiro lugar, aquele espírito voltava sempre porque você tinha medo. Se quiser afastar uma maldição, não lhe dê nenhuma importância.

“ Segundo: o fantasma tirava proveito de sua sensação de culpa: quando nos sentimos culpados, sempre desejamos – inconscientemente – o castigo.

“ E finalmente: ninguém que realmente o amasse iria obriga-lo a fazer este tipo de promessa. Se você quer entender o amor, aprenda a liberdade.”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Os direitos do ouvido

Existem duas coisas que me tiram do sério, na verdade um pouco mais de duas, mas duas coisas me tiram bastante do sério e servem especialmente para esse post: conversas no cinema e som alto em lugares públicos.

Meu Deus, porque as pessoas julgam que os outros são obrigados a ouvir o que desejam e compartilhar de suas conversas? E se não pensam assim, o que as faz imaginar que a lei da física não se aplica aos seus momentos de diversão sonora limitando o som alto e suas conversas apenas ao espaço que ocupa?

Não, senhores, nada disso. O som alto ocupa todos os espaço possíveis. A conversa no cinema é de uma falta de educação gritante.

Um dia ainda vou arrumar um desses carros super-som, chegar em um ambiente com tais figuras e ligar a todo volume uma sinfonia de Stravinsky, Verdi, Mozart...:

- Ei rapaz, abaixa esse som, que esquisito...
- Esquisito nada. O negocio do som alto funciona assim, cada um ouve o que quer. Ta rolando brega, forro e pagode nesse lado, aqui tem musica classica. E vao ter que engolir...


No cinema, quando um desses "donos dos ouvidos alheios" iniciar seu bate papo como se estivesse na sala de casa, inicio em seguida uma conversa em competicao com os temas mais absurdos possiveis: sexo, drogas, maus tratos ou qualquer outra coisa que possa chocar, num volume que se possa ouvir:

- Ei rapaz, essa conversa esta nos incomodando.
- Serio? Mas nao e' para o senhor ouvir. Estou conversando aqui com meu amigo, e' uma conversa particular.

Bem, claro que nunca irei realizar tais facanhas, mas que da uma vontade...isso da.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Apanhador de desperdícios

Hoje em dia tenho uma identificação larga com a poesia de Manoel de Barros. Recentemente li o livro "Memórias inventadas: A Infância", e gostei tanto que fiquei lendo devagarinho, como fazia quando ganhava na infância um chocolate de mainha e tentava prolongar ao máximo o tempo com aquela gostosura. A poesia de Manoel é uma gostosura.

Copiei uma para vocês, bom proveito:



Apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito as coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
amo os restos
como as boas moscas.
Queria que minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Democracia

Gostaria que algumas pessoas entendessem que democracia significa "vontade da maioria" e não "vontade de todos".

Ou seja, em uma democracia diversas propostas não alcançam sucesso, assim como várias opiniões são contestadas e dispensadas. Isso é democracia.

Tenho total consciência inclusive que a liberdade de opinião não é exclusiva das opiniões consideradas "boas", "corretas" ou quaisquer outras coisas. Liberdade é uma via para todos os lados: para a direita, para esquerda, para cima, para baixo e para lugar algum.

Por isso, quando vejo pessoas fazendo voz para conceitos ultrapassados e até vergonhosos na minha opinião, sinto uma ponta de orgulho por estar em um lugar que possibilita essa cena e outras "bem" melhores.

Por isso, algumas pessoas, abram sua cabeça para a nossa democracia. É assim que ela funciona, e tem funcionado muito bem.

Ah, e parabéns a Dilma: a minha, a sua... a presidente de todos (quer gostemos ou não...eu gosto).

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quando a onda tenta ser o mar

Eu acho que já falei sobre isso aqui no blog... mas uma repetição faz parte da vida, não?

Toda vez que me sinto angustiado costumo ir a praia. Nem sempre consigo, mas é minha saída terapêutica predileta. Hoje acordei com um nó na garganta e debandei-me para o oceano.

A imensidão do mar me deixa silencioso, o rolo compressor que por vezes carrego fica pequeno, miúdo, tímido ao perceber que é menos do que uma ameba perto daquilo tudo.

Aí eu começo a prestar atenção nas ondas, todas, inúmeras, ininterruptas, uma atrás da outra, e outra.

E se fossemos uma onda? Tentando ser a maior onda. Tentando ser a mais longa onda. A onda com o começo mais definido. Tentando ser a mais extensa. Tentando possuir a melhor iluminação.

Muito triste se eu fosse uma onda.

Oh onda... relaxa um pouco. Tem onda grande, tem outra pequena e tem umas médias. Tem onda que não começa tão bem mas alcança tamanho. Tem outras com a sorte de pegarem um lindo nascer do sol. Tem onda com larga extensão. Tem curtinha. Baixa. Escura. Torta. Dividida.

Nem vai adiantar você choramingar, nem faz sentido choramingar. Choramingar para quem? Choramingar porque? É assim que é.

Mas olha, saiba que todas (todas viu?) acabam na areia.

Então minha querida onda, não tente ser o mar, seja-o.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Fase ruim

Feriado passado fiz uma viagem para Barra do Cunhaú, uma linda praia no Rio Grande do Norte. Bem, mas não é sobre isso que quero falar.

No caminho parei em um posto para abastecer e comprar água. Quando já estava de saída uma senhora se aproxima de mim discretamente e me vem com essa:

- Boa tarde, será que o senhor poderia me dar uma ajuda? É que estou doente. Estou passando por uma fase ruim.

Parei. Talvez nem todos percebam a grandeza do que essa senhora me falava. Ela estava passando por "uma fase ruim": não seria uma mendiga para sempre, não estava impregnada naquele papel, não era pior do que eu, nem melhor, estava em uma fase assim como eu poderei estar no futuro, ou os outros, era uma pessoa em túnel onde para frente poderia sim existir luz, verde e paz.

Fiquei emocionado naquele instante. Foi um olhar zen, um olhar de quem pretende remar a favor da correnteza.

No pico de uma crise, cheio de problemas, um aluno não podia ouvir ensinamento melhor do seu mestre: "pois é meu filho, você está passando por uma fase ruim. É só isso".

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conclusões da turnê

Após uma mini turnê de uns 15 dias volto pra casa com algumas conclusões:

1-      China é foda. Um artista de extrema força dentro e fora do palco levanta até defunto ou gente decidida a parecer com um.

2-      A BANDA SEU CHICO é divertida pra cacete.

3-      Deu problema? Pula um pouco mais alto.

4-      Porra Lenine, precisa ser isso tudo?

5-      Em São Paulo tudo funciona, mas é feio demais.

6-      O Rio é lindo, mas nada funciona.

7-      Quem tem amigos conquista o mundo. 

Foto gentilmente copiada de Letícia Aido
(desculpa viu Letícia? É que a foto é linda e não resisti)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Viagem

"As vezes precisamos nos distanciar de um ponto para ficar relativamente perto".

Ouvi essa frase uma vez na peça "A história do zológico". Guardei-a e toda vez que viajo lembro um pouco dela.

Eu acho mesmo que muitas vezes a distancia nos auxilia a entender nosso funcionamento em algum sistema.

Existem pessoas com habilidades de se verem distante sem necessariamente terem que fisicamente se distanciarem. Puxa, é uma bele habilidade.

Nietzsche dizia que "o homem comum vive; o super-homem se vê vivendo".
Disse também: "eu não posso me conhecer, meus olhos estão demasiados perto de mim".

Pois bem, um pouco de respiração e distancia não faz mal a ninguém.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pré- estréia BANDA SEU CHICO

Queridos amigos e leitores amigos, 


nesse domingo (dia 17) à partir das 21:00 será exibido em primeirão mão o dvd da BANDA SEU CHICO, banda da qual faço parte.


A exibição será no CANAL BRASIL, um canal de TV a cabo. Por isso, quem não possui TV a cabo e quiser assistir terá que ir a casa de um amigo que possua ou em algum lugar que disponibilize.


Essa é a pré-estréia do DVD que estará nas lojas na segunda semana de novembro.


No programa teremos o show, e também o making off que foi gravado com a presença do próprio Chico em uma pelada: BANDA SEU CHICO X POLITHEAMA. Os fãs de Chico, assim como eu, devem conhecer o bom e velho Poltheama.

Essa apresentação é uma vitória e tanto para todos nós da banda, e por isso compartilho-a com todos vocês.

Um cheiro.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A mesma moeda

Outro dia, fui a uma reunião no Cinema da Fundação em pleno Festival de Cinema Infantil. Logo na entrada me deparei com uma leva de umas 15 crianças com duas professoras. De repente, dois garotos mais danado se danaram na frente falando mais alto que os outros. Ficou claro que por se tratar de um cinema a criançada havia sido alertado para a necessidade de silêncio...mas vocês sabem, crianças são crianças.

Aí vem o fato interessante. Quando os dois danados em questão começaram a falar alto a professora da frente soltou um berro estarrecedor:

- SILÊNCIO! NÃO PODE FALAR ALTO! EU JÁ DISSE! SILÊNCIO! (coloquei em caixa alta para dar uma pitada do grito que foi)

Todos que estavam ao meu lado esperando para subir se assustaram. E se entreolhando deixaram no ar: acabou tumultuando mais do que o garoto.

Aí eu, claro, me danei a filosofar: o que faz as pessoas acharem que combater algo na mesma moeda irá solucionar?

Ao combater a violência com violência não existe a possibilidade da violência deixar de existir naquele sistema. Talvez ela mude de fonte, isso sim. E o provedor da força violenta migre de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro.

Grito com grito. Berro com berro. Murro com murro. Ataque com ataque. Grosseria com grosseria. Vingança com vingança. Ódio com ódio. Raiva com raiva.


Alguns educadores acreditam que ao exaltar para uma criança que "não faça isso", o adulto está dando atenção e colocando em pauta a determinada coisa a ser evitada. O ideal seria "faça aquilo", deixando as alternativas mais fortes e presentes.

Aquela criança talvez obedeça a professora... enquanto for pequeno, mais fraco e sem autoridade. Mas assim que isso mudar, o grito terá um novo dono.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pois amar e cantar é o mesmo ofício

Cada vez mais me apego mais as músicas sobre felicidade e com felicidade.

Com uma poesia tão tocante quanto crua, rica, direta como um afago de mãe, reveladora como o colo da amada, Renato Teixeira é um artista que admiro imensamente.

Uma obra com a qual comungo a idéia de arte e poesia.

Deixo aqui uma música inspirada para inspirar o feriado de vocês.

"Então vamos que o tempo está passando

e o melhor nessa vida é ir andando"



Eita mundo bom!




quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um tapa ou uma flor?

Vejam que bonito.

Já faz algum tempo eu cultivo orquídeas - poucas na verdade (hoje tenho cinco), e com uma certa leiguice carinhosa. Ou seja, não entendo nada mas me esforço, tento.

Depois de uns dois anos cultivando a minha primeira danada floriu. Uma coisa linda. Uma vitória.

Aí, conversando com minha madrasta (tia, mulher do meu pai, segunda mãe) ela me sai com essa:

- Meu filho, a orquídea floresce quando está sob estresse. Quando você a estressa, ela floresce.

Puxa, achei isso genial. As orquídeas tem uma índole admirável.

Sob pressão ao invés de revidar ou atacar, elas florescem.

Quem dera as pessoas fossem assim.

Orquídea que floriu aqui em casa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um poema inspirado

A solidão e sua porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha),

quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o provisório.



Poema do inspirado poeta Carlos Penas Filho.
Boa semana a todos.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"God save the presidente"

Ontem, assisti o último debate do primeiro turno na Rede Globo e tive um sentimento engraçado. Me senti orgulhoso. Achei aquilo tudo bonito, gentil, democrático. E senti orgulho de todos os candidatos. Na primeira fala de Jose Serra, ele agradeceu a presença e cumprimentou Marina, Dilma e Plínio. Não sei bem porque, mas fiquei tocado com aquilo. É como se de certa forma estivéssemos entrando em uma afinidade nacional, uma afinidade bastante necessária. Como se estivéssemos começando a entender o sistema que nos engloba a todos, sem excessão.


Sempre que acompanho as notícias americanas fico impressionado como eles valorizam e protegem as "funções", os cargos. Eles exercem a oposição e a discordância, mas, antes de tudo, respeitam o papel do presidente. O presidente para eles está acima do partido, da discordância pessoal, é uma alta posição no país. E eles respeitam isso. Temos certeza absoluta que Obama, por exemplo, deve achar Bush um ignóbil, mas não o ouvimos desrespeitar-lo, nem ao menos permitir que outros o desrespeitem. Lembro de uma ocasião que Obama recém vitorioso na eleição citou o adversário e após ouvir vaias de sua militância destinada ao citado em questão pediu silêncio e respeito. E assim, lá naquelas bandas de lá eles respeitam o presidente, que respeita os senadores, deputados, promotores, juízes, médicos, professores, vendedores, policias, cidadão. Eles acreditam nas funções que exercem.

Sei que no Brasil, com toda nossa situação é difícil assumir essa postura. Um político rouba e indica um amigo para um cargo para poder ter poder com o qual burla leis e compra juízes que soltam ladrões desmerecendo o trabalho de policiais que desacreditados no sistema se corrompem e geram uma insegurança e uma insatisfação enorme em todos e por aí vai...

Mas precisamos começar de algum lugar. O ovo ou galinha virá primeiro.

Assim, repito: tive ontem um enorme sentimento de orgulho de todos os candidatos e de nosso sistema político e democrático. E nesse instante, eu acredito nele.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aniversário

Hoje é o meu aniversário. O dia em que paro tudo e comemoro a minha chegada ao mundo. Um dia doado a mim pelos céus. O ponto de partida e chegada do ciclo do qual faço parte. Um dia belo, cheio de energia. E o mais belo de tudo é que todos, sem excessão alguma, rico ou pobre, bonito ou feio, todos, queiram ou não, têm o seu.

E sendo o meu dia, gostaria de dedicá-lo a outra pessoa, porque é meu e assim sendo faço dele o que me convém.

Gostaria de dedica-lo a minha mulher, minha "pareia" - aqui no nordeste pareia é aquele que parece contigo,que te acompanha, o teu par. Porque ela, além de me fazer um bem danado e acentuar o meu centro e o ciclo que me envolve, alimenta o amor no mundo ao me amar e ser amada tão levemente.

O encantamento de dois seres harmônicos é tão magistral que me pergunto porque as vezes se perguntam se Deus existe: não está claro?

Assim, dedico esse dia a minha mulher e a beleza de conviver com ela. E dedicando a ela e a esse amor dedico a todo o amor do mundo!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Com comentários

No post passado questionei o porquê de tantas pessoas lerem e não comentarem no meu blog. Recebi respostas magníficas e até um telefonema para dar a resposta mais direta ainda. Foi um sucesso!

Por fim, todas as questões que tinha colocado se confirmaram verdadeiras em conjunto.

Foi ótimo e continuarei escrevendo, buscando temas e olhares interessantes e imaginando que vocês meus amigos compartilham comigo o gosto de refletir e observar viver.

Um abraço apertado.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sem comentários

Muita gente tem visto meu blog. Assim, "muita gente" comparada ao que eu esperava, e não comparando com os outros blogs ou coisa do tipo. Pois bem, muita gente tem lido esse blog, feito você que me lê agora, mas não sei porque cargas dáguas ninguém deixa comentário. É sempre 1 ou 2 no máximo.

Minha mulher diz que é porque eu escrevo sério demais. É?

Talvez seja porque escrevo pensamentos conclusivos e não tem muito o que comentar. Será?

Ou porque busco assuntos por demais reflexivos. Hum?

Bem, com o objetivo de aprimorar a nossa relação e porque eu adoro um comentário, resolvi escrever esse post perguntando diretamente a você meu querido leitor e provavelmente amigo: porque não me deixas um comentariozinho seguer?



ps1- Com o teor das respostas poderei me adequar melhor e tornar esse blog ainda mais vivo.
ps2- críticas outras para o bom desenvolvimento desse espaço também serão aceitas

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Chove adiante

Com um leve atraso, vai aqui o texto que sempre coloco no começo da semana para nos acordar.

Boa semana a todos:



CHOVE ADIANTE


No meio do campo, começou a chover. 
As pessoas começaram a correr, exceto um homem, que continuava a andar lentamente.


- Por que você não está correndo? - perguntou alguém.


- Porque também está chovendo na minha frente - foi a resposta.



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Vende-se embalagem sem nada dentro

Olha que coisa. No último post, logo embaixo, estava comentando sobre a falta de zelo dos novos artistas com a composição, a falta de cuidado e carinho com a canção.

Ontem a noite, para premiar minha fala no blog, teve o VMB - premiação do canal MTV. E o grande vencedor foi a banda Restart. Uma banda, digamos assim, nova ainda, e totalmente afinada com os novos conceitos da arte musical no Brasil - exposição expressiva, cuidado estético, desleixo com a canção.

Parece que estou fazendo críticas aos grupos, aos garotos. Nem estou... minha crítica mesmo vai para o sistema que privilegia esse comportamento.

A premiação no VMB, por exemplo, se deu a partir de votação do público na internet. Votação do público na internet? Então, quem for mais descolado e conectado com a rede parte na frente. Quem não se preocupou com o produto em si mas gastou seu tempo em redes sociais, contatos, facebook, twitter e etc. está com uma mão no troféu já.

Nesse nosso sistema Chico, Caetano, Gil, Betânia, Tom e companhia estariam perdendo feio.

Temos hoje muita coisa de qualidade por aí, coisas maravilhosas - inclusive no VMB. O problema é que a sistemática tornou tudo mais difícil para eles.

E enquanto essa via permanecer preponderante estaremos com os ouvidos ocupados com cabelos estilosos, roupas coloridas, coraçãozinhos na mão, performances e todo o resto... menos música.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quem olha com poesia

Uma coisa que me incomoda bastante na nova safra de artistas brasileiros é a falta de poesia, para ser mais preciso, a falta do "olhar poético".

Hoje, quando um compositor quer falar da mulher que foi embora ele fala: "a mulher foi embora". Quando quer falar da morte de alguém: "alguém morreu". De uma farra com os amigos: "fiz uma farra com os amigos". Do amor pra namorada: "eu te amo namorada". Puxa... não existe mais o zelo de olhar para as coisas com carinho, com cuidado. De buscar a melhor maneira de se expressar, a melhor simbologia, comparação, as melhores palavras, etc.

Isso me parece uma arte "fast-food". Parece que os antigos compositores deram vez para "celebridades", que por acaso tocam música.

Eu até entendo, porque imagino que antes os artistas se preocupavam com a canção, com a letra, com a novidade poética. Hoje ele precisa se preocupar com o orkut, facebook, twitter, dowload, MTV, email, produção e etc e etc...

Mas que é uma pena é!

Exigiram tanto que o artista virasse um empreendedor, um gerente de si mesmo, de sua carreira, que a geração acabou por virar uma mera empresa de produtos. Afê!

Segue um pequeno poema de Manoel de Barros que ilustra um pouco o que digo:



Passarinho parou de cantar.
Essa é apenas uma informação.
Passarinho desapareceu de cantar.
Esse é um verso de J.G.Rosa.
Desaparecer de cantar é uma graça verbal.
Poesia é uma graça verbal.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O matador de dragões

Segue um pequeno texto/conto/causo para animar a segunda:




O matador de dragões


Zhuangzi, um célebre autor chinês, conta a história de Zhu Pingman, que foi procurar um mestre para aprender a melhor maneira de matar dragões.


O mestre treinou Pingman por dez anos seguidos, até que este conseguiu desenvolver – à perfeição – a técnica mais sofisticada de matar dragões.


A partir daí, Pingman passou o resto da vida procurando dragões, a fim de que pudesse mostrar a todos sua habilidade: para sua decepção, nunca encontrou nenhum.


O autor da história comenta: “todos nós nos preparamos para matar dragões, e terminamos sendo devorados pelas formigas dos detalhes, as quais nunca prestamos atenção”.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Uma entrevista antiga

Achei essa entrevista um tempo atrás, li de novo e fiquei com um gosto de nostalgia no ar. Falava da Mula Manca (hoje está parada) e da Seu Chico (que tava começando). Acho que a entrevista foi em 2008 (no comecinho dele).

Bem, resolvi compartilha-la com vocês. 

A entrevista foi realizada pelo blog "' Outros Críticos", que tem diversas outras entrevistas bem legais.

Quem quiser ver mais, vai lá: Outros Criticos

Segue:





Rennó entrevista Tibério Azul, grupos Mula Manca e Seu Chico


Tibério Azul fotografado por Cécile Duchamp.

“ele canta como cantam os velhos poetas da tradição: alma, sangue e coração” – Alberto Infante, Diário Austral.
“que mal há em fazer sucesso cantando outrem? eles são jovens, e jovens são espertos” – Barbara Woolfer, Revista de Cinema.
“Chico tá sabendo o que eles estão fazendo?” – Albert Chevalier, Le monde Decadence.

“sambas surreais e surreais sambas ou outra coisa... ” – Oscar & Pablo, Caderno Cultural.
“Poemas de rua e mar... Pena que não cheguem ao coração da turba...” – Clarice Flor, Suplemento Palavra.
“Adoro ser triste com eles, adoro ser fabuloso com eles, e comecei a ouvir Chico com eles” – Anônimo, Fã Clube.
“Recife já foi uma cidade de invenção, pena cair - aos poucos - na mediocridade das bandas covers, mas dirão que eles não são covers” – Poeta Anônimo, Clube de Literatura dos Corações Solitários do Sargento Carrero.



Depois de um novo período de férias criativas... Volto com mais uma entrevista... Depois de idas e vindas, eis a entrevista com o poeta e músico dos grupos Mula Manca e a Fabulosa Figura Seu Chico. Tibério Azul responde as perguntas que fiz a algum tempo... Espero que ele não se ofenda com as críticas dos meus colaboradores, eles estavam ansiosos por uma nova entrevista... Na próxima semana teremos a banda carioca Do Amor, mas agora vamos com os recifenses...

Júlio Rennó: Vocês lançaram o disco "amor e pastel" no ano de 2007, além disto, mudaram o nome da banda (trocando "triste" por "fabulosa"). O que virá de fabuloso no ano de 2008?
Tibério Azul: O que virá em 2008? Essa é uma pergunta que nós fazemos também. Na verdade, as nossas mudanças são naturais e espontâneas, sem premeditações, basicamente coração. Por isso é difícil dizer o que dirá. E eu, particularmente, também fico imaginando curioso o que será que danado eu vou me meter a fazer em 2008. E em 2009?

Rennó:
 Gostaria que vocês falassem sobre o termo "banda paralela" (Alguns integrantes da Mula Manca tocam no Seu Chico, banda que toca canções de Chico Buarque).

Tibério:
 Isso. A SEU CHICO é uma banda que surgiu a partir da Mula e deu os seus passos próprios. Hoje ela segue um caminho individual, com outros integrantes, outras idéias e projetos. Podemos dizer que ela era a banda paralela, e hoje é a "banda amiga", uma coisa mais parecida com um caso de amor.

Rennó:
 Na Mula Manca, as composições nem sempre são cantadas pelo integrante que as compõem, desse modo, vocês quebram com uma tradição na música popular; exemplos como Beatles e Los Hermanos, onde o integrante que faz a música acaba por também cantá-la. Esta é uma decisão pensada?

Tibério:
 Na verdade, é um processo natural. Pensamos assim, cada integrante tem a sua função, a sua área de atuação, o seu reinado. Mas não somos individualistas. Eu canto a maioria das músicas mas acho que em determinados momentos a voz de um outro integrante traz força e descanso à narrativa do disco e do show. Vejo esse ponto como uma riqueza enorme. Inclusive no nosso disco temos uma convidada cantando uma música. Ou seja, pensamos na canção e no ritmo do trabalho - show ou disco.

Rennó:
 O músico e produtor Kassin (integrante do grupo Kassin+2 e produtor de discos dos Los HermanosCaetano etc) disse em uma entrevista que a música nunca deveria ter saído do formato LP. O que vocês pensam dos novos formatos da música? Ainda compram LPs? Ainda compram Cds?

Tibério:
 Acho que a mudança é natural e incontrolável. Às vezes não gostamos do avanço do mar, das imensas ondas ou de sua calmaria exagerada, mas, o que podemos fazer? Podemos entender, nos preparar, nos organizar e fazer nossos planos com base na realidade. A internet é uma realidade. A violenta evolução tecnológica é uma realidade.

Um verso, uma cena de filme e uma voz bonita e estranha por Mula Manca e a Fabulosa Figura:

O verso é mais uma resposta dada por um grande poeta:
"Eu não sou qualquer artista, eu sou um artista brasileiro. Eu não sou qualquer artista brasileiro, eu sou um artista nordestino. E não sou qualquer artista nordestino, sou pernambucano".
João Cabral de Melo Neto
Cena de filme poderia citar qualquer cena do poético e vibrante robô catador de sobras WALL-E.
Voz bonita é aquela que toca e fala com um eu seu guardado. Voz estranha é aquela que toca e fala com um eu seu guardado. Quão bem nos conhecemos e nos desconhecemos, não? Isso é poesia e nós somos a poesia do mundo. Ah, mas se precisamos de uma voz cantada: Louis Armstrong