quinta-feira, 8 de abril de 2010

Bate-papo com CHINA - parte 1

CHINA é um cara de Olinda, virado no mói de quento, com uma energia da gota, que desde o começo chamava atenção pelo olhar, pelos pulos e pela entrega. Da extinta banda Sheik Tosado, herdou a capacidade de perceber seu potencial. E assim se fez: já vai para o terceiro disco solo, show incontáveis com o projeto Del Rey e um currículo tão extenso que não dá pra citar sem incomodar os leitores com tanta informação. Mas mais do que conquistas profissionais, conseguiu o feito de virar uma referência no trato pessoal e o apelido (inventado agorinha) de Forrest Gump pernambucano - o cara que está em todas, ao lado de todos e vai inventar de abrir a boca para falar mal dele na rua pra ver a zica que dá.

CHINA é um cara pra frente, que olha pra frente e se encaminha pra frente. Abaixo a primeira parte desse bate-papo sobre trabalho, família e diversão.

Qual o seu ofício?

Acredito que meu ofício no mundo é tentar passar o conhecimento que venho aprendendo, dividi-lo com as pessoas e cuidar dos meus moleques antes de qualquer coisa. E profissionalmente me divido em mil coisas. Acho que hoje em dia a carreira artística faz você ter várias possibilidades e não uma só. Você não precisa ser só músico se tem potencial para ser músico e ser jornalista, ou pra ser músico e ser apresentador de TV, ou pra ser músico e ser técnico de estúdio, ou roadie ou o que for. É uma profissão que abre um leque grande. E quando o nego se pergunta se vai ganhar dinheiro com música, acho que fatalmente você vai ganhar se tem dedicação.

O que você faz melhor?

Puxa, acho que escrever. Mais do que cantar, mais do que trabalhar em estúdio, acho que é o que mais me identifico. A hora que consigo falar mais de mim e de tudo que vi durante o dia, muito confessional. Costumo escrever como um diário. Quando eu era moleque com meus 13 pra 14 anos, não tinha tantos amigos assim, curtia escrever e nenhum dos meus amigos curtia. Nessa época eu já ouvia um tipo de música diferente... ia sim, também, para os forrós, para os pagodes porque para azarar as meninas você tinha que ir, mas não tinha muito amigo pra trocar, e aí comecei a escrever. Acho que isso me ajudou em vários momentos a superar vários problemas, talvez nem superar, mas colocar pra fora.

E a música onde entra nisso tudo?

Bem, no meu caso foi uma conseqüência. Eu escrevia bastante, gostava de música e tinha um irmão que já tocava em bandas. De repente ele saiu da banda que tinha, eu mostrei os poemas que eu tinha pra ele, que curtiu bastante, e acabamos montando o Sheik Tosado.

O que você queria nessa época?

Que meus poemas virassem música, que as pessoas entendessem o que eu queria passar. Na real, não era nada muito sério. Mas cerca de um ano depois a coisa virou séria. Pintou gravadora, e eu com 17 anos me vi empregado num grupo forte, ganhando dinheiro com minha música, viajando com ela. Foi um caminho muito fácil, natural. Sei que a vida artística ilude muito o cara. A pessoa tem tudo mais facilitado, tem a liberdade de trabalhar a hora que quiser. Inclusive a maioria não faz isso e trabalha só quando tem que trabalhar, o que eu acho errado, acho que o artista tem que trabalhar toda hora pensando em coisas produtivas para os eu trabalho porque a grande vantagem é que você só depende de você.

O que te movia e move na arte?

O primeiro show que fiz que eu vi a galera batendo palma e as pessoas parando para me ver eu senti um poder fora do normal. Você ter o controle de tudo que está acontecendo no local. Você disser: “agora todo mundo levanta a mão”, e todo mundo levantar a mão. Ou pedir para todos irem para a direita e todos irem para a direita. Isso é muito forte e tem que ter bastante cuidado porque você está com o microfone que é uma arma ali. Tem que ter cuidado mesmo porque aquela atmosfera pode também se virar contra você.

Sem contar que acaba rápido.

Exatamente. É, acaba rápido.

O que moveu aquele menino de 16 anos então foi essa força?

Eu acho que sim. Você tá querendo me levar nas perguntas (risos), mas acho que é isso mesmo.

E hoje o que te move?

A mesma coisa, porque ainda curto muito estar no palco. Mas como a vida passa e você vai adquirindo outras coisas, hoje não é só isso. Sempre que estou no palco hoje lembro dos meus filhos, da minha esposa – lembro bastante dela porque a maioria das coisas que escrevo são para ela. Hoje em dia, então, estar no palco tem uma atmosfera muito maior porque me emociono mais. E assim acabo me entregando mais e virando um interprete muito melhor, eu acho. Lembro que vi uma entrevista com Maria Betânia onde o jornalista perguntava se ela não compunha e se “só” cantava. E ela respondeu: como assim eu só canto? Eu estou ali entregando meu corpo, minha alma, tudo.

Então, meu tempo de estrada me fez aguçar muito mais o sentido do palco. Hoje sou mais ligado e centrado do que o “porra louca” que eu era quando tinha 16 anos.

http://www.myspace.com/chinaina

3 comentários:

  1. Entrevista massa, caro Tiba. Lembro de China em dois locais distintos: no Salesiano maloqueirando e ouvindo Beastie Boys enquanto as menininhas preparavam a abertura dos Jogos Internos e em Itamaracá, batendo pelada no campo dos médicos com uma pá de maloqueiro do bem: Marcelo, Felipe, Wesley Mão de Gia, Betuca, eu, Rodrigo Urea, Quinho, etc.

    Como ele diz na entrevista aí, era um cara realmente reservado, mas com o potencial ali preso, prestes a explodir. E explodiu!

    Parabéns, Chinaman.

    No aguardo pela parte 2.

    p.s.: nas peladas o potencial nem era tão foda assim!

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  2. Pra variar, entrevista curta e massa (:

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  3. gostei, timbalerio...ficou bonito.
    valeu.
    china

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