quinta-feira, 22 de abril de 2010

Opinião precisa

No meu último post discuti sobre a falta de opção e a sensação de desnorteio frente a pobreza e ao funcionamento da pobreza em nossa sociedade. Um grande amigo, por quem guardo enorme respeito e admiração, e que hoje se encontra em Angola, mais atento ainda a esse assunto pela inserção a que se submete, teceu um comentário que me fez pensar bastante e me abriu um fenda no olhar.

Resolvi compartilhá-lo mais atentamente com vocês. Segue:


O homem passou pela época do 'ser' (iluminismo), do 'ter' (capitalismo) e agora passa pela fase do 'aparecer' (fruto da atual sociedade da informação). O princípio que move a necessidade de exibir riqueza vejo como idêntico ao que provoca exibir a miséria. Não digo a miséria em si, que é a própria ausência de condições mínimas de dignidade e bem-vivência. Mas quando uma pedinte carrega um bebê no colo, estimula em quem aquilo vê uma sensação inversamente proporcional ao ver uma bolsa Louis Vuitton no colo de uma mulher de posses. Ou seja, ambos são alegorias.

O fato da esmola é parecido com o sistema de telemarketing: você nunca trata com o gerente. Mas ele existe. E encontrá-lo é abrir uma fresta ao sistema. Realmente, ao meu ver, é preferível o gesto de "conhecer a cozinha", ou seja, de abordar o miserável pela surpresa, levá-lo para uma experiência fora da realidade dele (fazer um lanche, ver o rio, jogar bola). A verdade está lá, do mesmo jeito. Se ele mente, é a verdade dele, é o sistema dele. Dar um trocado é manter a linha de produção em andamento. Por outro lado, é insustentável abordar cada pedinte desse modo mais interativo: o fato de pedir já é uma falha na sociedade.

Mas isso já é outra conversa...

Fernando Almeida

2 comentários:

  1. Tiba,
    estou com um blog. http://versosincompletos.wordpress.com/

    talvez isso seja mais um spam da net. enfim; se não for, recomendo a visita ;)

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  2. Interessante as opiniões, as reflexões... mas continuamos sem opção, na dúvida. Essa confusão me parece a representação de bondade. E isso é bom.

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