Sexta feira fui na casa de um amigo nas Graças, em Recife. Quando ia tocar o interfone um mendigo me abordou.
Gentil, começou a falar de forma delicada, lenta: "não estou pedindo dinheiro, de forma alguma", repetiu.
Vivemos em um mundo de jogos, de artimanhas, de maneirismos e métodos de vitória. Infelizmente isso é verdade e acontece o tempo inteiro. E por vezes, costumo sair de certas abordagens pela tangente, como uma forma de proteção.
Mas não foi o caso.
Algo ali me pareceu precioso, sincero.
Parei, me virei completamente para o mendigo, olhei nos seus olhos e disse: pode falar.
E comecei a ouvir. Ele falou rapidamente de sua história (mas sem muita melancolia) e de sua situação, explicou o que me precisava e teve um ouvinte atento.
Ele não queria dinheiro, é fato. Mas ele precisava de dinheiro, e era óbvio. Dei tudo o que tinha carteira. E a princípio ele não gostou.
- E o que eu vou fazer por você em troca dessa ajuda em dinheiro?, questionou incomodado.
- O senhor vai permitir que o universo me devolva de outra forma.
- Está certo, está certo, disse tranquilo.
Conversamos um bom tempo e fiquei admirado com o olhar, a lucidez e a gentileza do senhor que já devia passar dos seus 60 anos.
Dei uma camiseta do Bandarra, meu disco solo, e exaltei que o estava presenteando porque ele era uma ótima propaganda, um homem de energia boa. E por fim, ouvi lições preciosas, como se ouvisse direto dos céus, das pedras e do chão saindo da boca daquela figura que ninguém espera muita coisa:
- Carro passa meu filho, ele disse, dinheiro passa, banda passa. Mas mantenha-se na humildade, deixe que seus olhos falem por você. Porque você pode perder tudo e não terá importância, mas não perca sua humildade.
Ouvi com todo respeito que coube em mim e saí emocionado daquele encontro, certo que conversei com algo maior.