sexta-feira, 26 de março de 2010

Entrevista n2 - Jr.Black

Junior Black é um grande homem - em todas as proporções que essa frase possa alcançar. Proprietário de talentos variáveis, é reconhecido por todos os que param um pouco ao seu lado como uma figura ímpar, um ser brotado da nossa mais criativa imaginação: algo entre o real e a fantasia. Cantor, compositor, contador de história, locutor, comediante, angustiado, artista; é de tudo um pouco e as vezes tudo em pouco.

Num final de tarde tranquilo, eu Black conversamos por 15 minutos logo após ensaio com sua banda para o lançamento do seu primeiro disco solo(RGB). Ao final da conversa nos demos conta que estávamos na Praça do Trabalho...(risos). Tudo a ver com a conversa a seguir:

Qual é seu ofício?

Cantor popular.

Por que você faz música?

Porque a música me tomou para si. Da primeira vez que eu entendi o que a música promovia nas pessoas, eu fui tomado por ela. Quando era pequeno, eu vi meus pais ouvindo discos de e dançando muito, vi as festas na casa da minha avó, e entendi, senti no coração que as pessoas ficavam mais felizes, mais alegres, mais elegantes com a música. Nesse momento eu decidi ser músico, ser cantor.
Acho que a música eleva a alma, te tira de um lugar, te põe em outro lugar. Mas tem que ter cuidado com o que canta, fala e diz, porque a música é um barco onde a gente deposita nossa alma lá dentro e ele vai para um oceano muito doido, muito extenso de coisa, situações, memória. Acho que a isso está acima de qualquer julgamento dos homens. A arte é superior a gente, e não no sentido angelical ou de Deus, mas no sentido fisiológico, humano.

Você acha que qualquer música é música?

A gente tem que dissociar entre o que é música e o que é arte. Música, pensando em compasso, tempo, ternário ou binário, harmonia e melodia é música.

Você acha que toda música é arte?

Sim. Agora partindo do princípio de arte de Percy. Acho que “arte” tem esse nome mas é só um casca, um invólucro, e esse significado é pessoal, intransferível e relativo. O que é arte para mim pode não ser para você ou para outras pessoas.

E o que é arte para você?

Para mim, a arte é quando promove no meu ser euforia, exaltação, sonho. Hoje eu faço música buscando a imagem do meu pai e da minha mãe dançando, eu pequenininho brechando meus pais levemente embriagados rindo em casa. Quando qualquer tipo de música me dá essa lembrança, esse ânimo de dançar, entrar no carro, viajar, curtir os amigos, ligar para alguém, acender um cigarro, eu acho que é arte.

Qual é a mensagem do seu mais novo trabalho, o disco RGB?

O que eu quis dizer nesse disco é que a gente não nasce para fazer uma coisa só. Nós somos um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete mil. Nós somos incontáveis pessoas dentro de um invólucro de carne, sangue e carbono. E que a gente vai continuar, nem que seja numa gravação, num filme, num espírito, numa reza. A gente vai continuar.

Esse disco surgiu num momento em que eu estava muito triste, com o fim de minha antiga banda, a Negroove, e eu tive vários medos. Mas depois fui percebendo que não precisava ter medo de nada, as coisas vão acontecendo naturalmente a medida que você vai se inclinando, se dedicando, vai se enxerindo, se inserindo. Como dizem os espanhóis, “o caminho se descobre andando”.

O que você buscava quando começou?

Com 12 anos eu ganhei meu primeiro violão. Eu tirava som no prédio e queria cantar para uma multidão de gente, 50 mil, 150 mil pessoas.

O que busca hoje?

Hoje eu saio do sonho e vou mais para a realidade. Tenho a expectativa comum a todo trabalhador, pois o fato de ser artista não me eleva a nenhuma condição especial de isenção de imposto ou de porra nenhuma. Tenho certa ambição saudável e o que eu espero é trabalhar bastante esse disco, encontrar condições no mundo para que esse disco se concretize em show, turnês e que se expanda por si próprio.

Você se sentiria um homem fracassado se?

Se depois desse tempo todo com música eu fosse obrigado a escolher outra profissão.

Você se sentiria um homem de sucesso se?

Se eu conseguisse, como ainda não consegui, já ter minha vida estável, equilibrada financeiramente.

4 comentários:

  1. Esse é o perfil da música "pé no chão", da arte pela arte. Infelizmente, artistas por natureza buscam aos trancos, credibilidade e espaço. ótimo post. Pode dále.

    abraço, Luiz Diniz www.la-prensa.org

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  2. Eveline Ribeiro - de Grilão :-)29 de março de 2010 às 11:13

    Que lindo!!!!!

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  3. Tiba, parabéns pela entrevista, seu lado jornalista é quase tão bom quanto seu trabalho artístico. Ao JR Black quero dizer...tem algo de angelical nisso sim, véi. Vc é um anjo. Os anjos tem formas, temperamentos, naturezas e razões de existir distintas. Não sinta, "O medo é uma força que não me deixa andar(Lenine)". Vc vai trabalhar com música a vida inteira. Passarinho nasceu pra cantar.
    Abçs

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