segunda-feira, 15 de março de 2010

Onde vivem os monstros?

Mas enfim onde vivem os monstros? Onde se escondem os nossos maiores medos? Aqueles que nos travam os dentes, nos tremem as pernas, nos embrulham o estômago? Onde vive aquele desespero que evitamos com toda força? Aquele princípio de pânico?

- É um absurdo você fazer isso comigo, um absurdo.

De onde vêem, onde vivem, como chegam esse monstros terríveis que nos engolem, nos mastigam? Como chegam tão fácil a nós? Como podem apesar de todos os cuidados que tomamos?

- Que raiva, que ódio... acho que sou inocente demais para perceber a maldade das pessoas, por isso sou tão atacado e feito de bobo. São os outros, são as pessoas.

Onde aprenderam tanto sobre mim? Como conseguem ferir-me com essa precisão? Uma vida inteira tentando evitar, tentando se proteger, buscando proteção e ainda assim chegam tão rápidos, tão fáceis? Quem os ensina? Onde aprendem?

- Foi ele, ele sim. Ele fez a cabeça de todos, influenciou a todos, iludiu, enganou e fez com que todos ficassem contra mim. Só pode ser isso. Por isso tantos me acusam, esses monstros.

Onde vivems os monstros? Onde esses monstros vivem? Porque eles não me deixam em paz? Porque eles...?



Eles?

5 comentários:

  1. Muito bom o texto. Eles, os monstros vivem dentro de nós... ou Eles somos nós mesmo.

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  2. Eles habitam o lugar mais inospito e desconhecido do nosso organismo, em que ninguem ousa estabelecer fronteiras ou traçar limites definidos.

    Eles se escondem na nossa mente, vagando por entre a imaginação e a percepção de mundo; misturando e confundindo em nossa cabeça o que e real e o que e imaginario.

    É irônico, mas esses monstros estão tão perto de nós, dentro de nós, e são os mais inacessiveis, os mais dificeis de se combater.

    Quem alimenta esse monstro todos os dias, adivinha?

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  3. Esse negócio de monstro é foda. Quando se é guri a gente imagina monstros com dentes grandes, gigantes, ou que voam com asa de morcego, ou que vem arrancar o seu fígado e comer. Quando você fica maior (pelo menos eu), os monstros passam a não ter mais forma, rosto, asa, tamanho. Eles simplesmente existe, sem forma, só com o terror. E o pior de tudo é que eles não estão debaixo das nossas camas, eles estão bem mais próximos. Se confundem conosco mesmo!

    Eu preferia que fossem os do Zé do Caixão!

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  4. Pois é, incrível como os monstros tomam forma, ficam igualzinho a nós, mesmo cabelo, rosto, corpo...e fazem tudo aquilo que nós temos certeza que não, que não somos assim. Ui!
    Eu também preferia a bruxa Arturo.

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  5. Quem já leu "Entre quatro paredes", de Sartre, deparou-se com a questão de que 'o inferno são os outros' e, muitas vezes, confortamo-nos. No entanto, não podemos nos esquecer também de que é muito complicado convivermos com nossas divindades e misérias ao mesmo tempo. De olharmos pro nosso interior e não nos assustarmos. Conviver, por exemplo, com nossos medos. Com a condição de que a do ser humano é a de um naufrágo, como dizia Ortega y Gasset. Não estamos mortos, e sim jogados no mundo, como um naufrágo. Recomendo também a leitura de "Relato de um naufrágo", de Gabriel García Márquez.

    Em tempos, parabéns pelo texto! :-)

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