segunda-feira, 22 de março de 2010

Palavras vazias

Nesse fim de semana pensei bastante sobre palavras, na verdade, sobre palavras vazias.

Apesar de ser poeta, não acredito nas palavras como desenhos, nos discursos como caminhos de pura beleza estética. Eu acredito que as palavras representam - são extensões de sentimentos verdadeiros, de bolsões de energias pulsantes.

A força da palavra "cadeira", por exemplo, está em tudo que ela representa nos fatos, em momentos experimentados, e não em filosofias baratas perdidas no texto. Se a cadeira não servisse para sentar e se nela não pudéssemos sentar de verdade teríamos outra imagem e a palavra seria outra. A palavra "cadeira" tem a sua verdade no fato de servir para sentar e funcionar ao que se propõe, independente de qualquer abstracionismo. Uma cadeira que não serve para sentar nem o nome de cadeira carrega, e está mais para "monte de madeira entulhada"ou outra coisa criativa.

Muito me incomodam todos aqueles que usam das palavras sem correspondência com a realidade. Porque falar de bondade se eu não sou bondoso? Porque falar de espiritualismos se eu não acho como um espiritualista? Se eu nem o pratico ao menos? Porque falar de palavras que não servem na realidade ao que nos propomos? Porque falar de nossas cadeiras se não permitimos que nelas se sentem?

Não podemos, na minha opinião, nos medir pelos discursos. Precisamos nos medir pela vida: pelo que carregamos, pelos que nos carregam, pelos nossos exemplos e, o mais importante, pelos nossos frutos. É daí, senhores, que as nossas palavras surgem, é desse lugar que elas podem brotar.

Prefiro palavras que nos apontam as belezas, palavras que iniciam o encantamento e que não terminam em si. Prefiro os discursos que nos orgulham posteriormente. Prefiro as pessoas que primeiro consertam suas cadeiras para depois delas falar.

O dom de palavras vazias é um talento que não serve para nada. Talvez para nos inflar o ego e estourarmos como um balão sem medida. Esse talento senhores, eu dispenso.

4 comentários:

  1. No fim das contas, todas as palavras são vazias... São brinquedos nas mãos de um poeta, armas em momentos de fúria, flores para os amantes. Mas ainda assim, vazias...
    Um olhar, um sorriso, um beijo. Sem sintaxe, semântica ou métrica. Esses, em silêncio, nunca são vazios.
    Você pode fazer do chão ou de uma nuvem sua "cadeira", basta sentar-se.
    Palavras, definições, são apenas o jeito, nem sempre verdadeiro, que o homem inventou para pobremente representar que se sente...

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  2. São Roberta, são mesmo. Mas existem aqueles poetas cujas palavras são apenas carro-chefes do que já vivem e experimentam. Essas palavras seriam como a cabine de um trem e aos que olham o que com elas caminham se encantam ainda mais. A força de um Manoel de Barros que fala e vive sua poesia nunca será a mesma de um poeta que se distancia de seu universo.
    Mas concordo contigo também. E suas palavras são bonitas.

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  3. Não é que todas as palavras sejam "vazias", no sentido empregado no post. As palavras são inertes. Mas, não deixam de consistir em uma criação humana das mais importante - um sistema de símbolos criado para que o homem transcendesse o seu isolamento e pudesse se conectar com os demais. E mais humano, demasiado humano, é quando se tenta partilhar as experiências intangíveis, abstratas. E é aí que entra a figura do artista/poeta, aquele ser que insistentemente tenta se comunicar e ser compreendido pelo Outro. E, quando estabelecida essa ligação, a sensação inflamada é de uma verdadeira comunhão espiritual. E é por isso, e para isso, que estamos aqui dialogando neste blog. Por isso, e para isso, que a humanidade segue viva. Nesse sentido é que concordo com as ideias do post. A arte [ou a poesia, como queira] não deve ser a meta, mas a busca de uma verdadeira comunicação. A solicitação de espiritualidade. A busca por sinais de vitalidade humana, enfim.

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  4. Muito bom seu blog, Azul! Virei fã! Aquele abraço!

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