quarta-feira, 11 de maio de 2011

Caridade

Ta aí um assunto que as vezes me deixa reflexivo, intrigado.

(ca.ri.da.de)
sf.
1. Ação ou resultado de fazer o bem a quem necessita.
2. Sentimento e atitude de apoio aos necessitados.
3. Ajuda ou doação em favor de pessoas necessitadas; ESMOLA

Tenho uma larga sensação de que quando fazemos caridade (nesse conceito cristão que permeia quase todas as nossas religiões) estamos de verdade alimentando o nosso ego.

Quem recebe a "esmola" é o necessitado, o pobre coitado, o que espia, o sofredor, e por aí vai. E nós, por mais que tentamos encher nosso discurso de palavras humildes, assumimos a energia superior, e se não quisermos admitir-nos superior pelo menos temos "mais consciência".

Não me sinto bem nesse lugar.

De minha parte quando sinto vontade de fazer essa "bondade" tento apagar esse conceito e perceber que na verdade eu estou ganhando com isso. 

Não é doação, é troca.

Convivi certa vez com uma pessoa que assumia esse discurso de caridade. Doava presentes no Natal, se preocupava com os mais pobres, com a educação deles, se apropriava de lindos discursos. No entanto, ao seu redor, essa caridade não era assim tão presente. Amigos, irmãos, companheiros de trabalho, filhos... esses não recebiam essa doação toda.

Trabalhei um tempo em uma ONG com adolescentes em área de risco social e ali vi um pouco do que é caridade continuada. Eles costumavam se auxiliar em diversas áreas. Mas não era porque uns eram mais bondosos do que outros, ou mais religiosos, ou mais espíritas, ou mais ligados a Deus ou coisa do tipo. Eles se ajudavam porque todos precisavam. Aí sim, era um lindo movimento de parceria.

Esse é um tema amplo e merece conversas mais longas do que um post no blog.

Eu não sou contra a caridade como comumente é praticada. Sou a favor e até um adepto dela. Mas acredito que estamos todos caminhando para uma harmonia espiritual mais delicada e assim precisaremos rever alguns sentimentos.

Certa vez, um mestre me disse: "se você sentar em uma cadeira com um prego você fica sentado ou pula imediatamente sem nem ao menos pensar sobre o assunto? Pois é, ninguém fica em um lugar só ruim".

A sociedade se alimenta da própria sociedade: "não quero um novo sistema social, quero um homem novo", Che Guevara.

Na Semana Santa, em plena sexta, um senhor caiu desacordado em frente ao meu prédio, era fome. Quando desci dois homens já auxiliavam o senhor e eu feliz da vida com a cena fiquei só observando. Em determinado momento ele agradeceu emocionado:

- Vocês são pessoas muito boas, estão me salvando de um situação horrível, de vexame, Deus abençôe vocês.

E eu, sem resistir, respondi:

- Meu amigo, amanhã quem estará aí serei eu, o mundo gira rápido demais. Estamos ajudando a nós mesmos.

Ele sorriu e juro que senti um certo alívio na energia do senhor.

Para fechar, pergunto influenciado pela minha amiga leitora Mag: qual a nossa parte? A nossa parte é fazer de forma íntegra, inteira e sem esforço.

6 comentários:

  1. Acho que nos falta a sensibilidade de percebemos que somos todos iguais, todos precisamos uns dos outros... em momentos, ocasiões, formas diferentes... mas precisamos.
    Realmente, o mundo dá voltas.

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  2. Concondo com a Rebeca quando ela diz que "nos falta sensibilidade", acho realmente que é isso o que nos falta, sensibilidade de sempre nos colocarmos no lugar do outro. E essa ausência, não é por não pensarmos a respeito, mas é por acreditarmos que sempre temos mais problemas que o outro!

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  3. partindo da consciência de igualdade, caridade tá longe de ser bem pra quem recebe. é mesmo uma ponte, na verdade, você se sente bem, mas não porque está sendo bom, ou superior,porque não é isso. mas porque tá fazendo o certo. porque uma vez que você aceita que não é melhor que nenhuma outra pessoa, você só está dando a ela o que ela tem direito de ter, seja comida ou seja afeto, educação, apoio...
    deve ser por isso que a doutrina espírita diz que fora da caridade não há salvação. melhor ainda quando quem "faz" não o faz pra tirar algum peso na consciência, pra ficar em paz com a mente ou pra achar que está fazendo algo melhor do que os outros. mas quando faz porque acha que é a lei natural das coisas,ajudar e ser ajudado,quem não conhece e precisa muito, ou quem está sempre perto de você e acaba não recebendo de vc a atenção que merece.

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  4. Existem formas e formas de sermos bondosos e fazermos nossa parte...

    Eu muitas vezes já abri discussões sobre essa causa, mas confesso que nunca escrevi sobre.

    Então, segue meu desabafo.
    Sou Assistente Social e abomino esse tipo de caridade, doação de sopas, brinquedos e todas as outras coisas, isso não é sentimentalismo é esmola, acho lamentável que muitos ainda pensem assim, tenho pessoas no meu trabalho que ainda são adéquas desses pensamentos pequenos, me desculpem a sinceridade, mas ÉGUA! vão fazer pesquisas, vão levantar projetos, que vão realmente mudar a vida dessas pessoas, dar as nossas crianças, adolescentes, adultos e idosos, verdadeiras condições para se viver com dignidade. Vocês assistentes de prefeituras, ONGS e orgãos governamentais, saiam dessa ociosidade e dessa zona de conforto, e vão auxiliar esse povo que é carente de OPORTUNIDADES...

    Ao invés de darem 3 míseros mijãozinhos para as futuras mamães,dêem á elas máquinas,tecidos e capacitação para que elas possam serem donas de seus próprios benefícios,isso ajudaria na sua própria formação, seria uma terapia, pois haveria trocas de conhecimentos e vivências.
    Ao invés de fazerem distribuição de sopas, façam cursos de formação para dar oportunidade pra gente ser inserida no mercado de trabalho.
    Dar condições pra essa gente... Isso sim será fazer a sua parte!

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  5. Muitas vezes pessoas que se dizem caridosas sentem-se superiores por pensarem que estão aqui para "servir" os desprovidos quando, na maioria das vezes,são elas as servidas. Servidas de lições de vida de pessoas que escolheram vir ao mundo de forma "menos feliz" para evoluir, ensinar e aprender amar. Que nossos espiritos possam aprender a PARTILHAR da caridade e não apenas a pratica-la, que possamos amar as pessoas com nossa alma, aí sim, seremos realmente caridosos.

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  6. Fiquei instigada a escrever sobre o assunto... mas pra não tomar um espaço mto grande aqui no seu blog, resolvi publicar algo no meu... se tiver a fim de ler, apareça por lá... valeu... eu queria ser sucinta como vc... rs...

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