quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre composição de letras - parte 2

Na primeira parte desse post, eu falei sobre o que considero o princípio da construção de uma letra: escavar o sentimento da canção. Nesse primeiro instante o letrista se localiza, define a área do coração onde trabalhar, o caminho, o norte (ou sul ou nordeste ou oeste ou leste ou) e passa para a segunda parte, a história.

Com um sentimento em mãos, o letrista começa uma história. A partir daqui, eu acredito, temos mais liberdade e mais escolhas. As opções variam e seguir uma direção ou outra não invalida a canção. Embora não tenhamos tantas opções assim.

Se no primeiro momento, por exemplo, o compositor decidiu falar sobre saudade, uma saudade sem volta, sem esperança, ele passa a traçar os detalhes desse aperto no coração. Uma mãe que perde um filho? Um traidor arrependido? Uma amor antigo, longe, quase inexistente? Uma casa que foi abaixo? Um casamento que foi abaixo? São vários os caminhos e o compositor deve escolher aquele que melhor retrata o sentimento. O método ainda é o mesmo: por erro e acerto até que não reste dúvidas.

Nessa parte da composição eu gosto de sair de casa, de pesquisar. Vez por outra vou para algum lugar público com um pequeno gravador com a melodia em mãos e fico ouvindo-a e vendo as pessoas passando. Cada pessoa carrega diversas historia consigo. Gosto também de ouvir. Sabe aquela amiga da amiga chata que fala pra caramba? Pois bem, é um poço de inspiração.

A pressa é um inimigo mortal, talvez assim o seja durante todo o processo. Correr aqui é construir uma história repetitiva, óbvia, apenas centrada no familiar. Certas vezes isso pode até funcionar, mas sem paciência sua obra ficará sentada no mesmo banco, e assim se tornará chata.

Construir uma história é inventar vidas. E embora seja muito comum irmos para o auto retrato e contarmos um caso próprio, mesmo nesses casos, ainda é a construção de personagens. Porque mesmo quando você resolve contar sua história você terá que contar apenas uma parte dela, um olhar, um pequeno exemplo de você, que sendo assim não será você exatamente e sim um personagem sobre você, ou seja, uma história apenas.

Defina a história, o que aconteceu, porque aconteceu, quem são os personagens, como eles se sentem, de onde eles vieram, como eles falam, como pensam, porque pensam, como riem e como choram.

Com a história em mãos partimos para a mão na massa. Até o próximo post.

5 comentários:

  1. Você costuma compor também sem a melodia pronta?

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  2. Bem Ana, existem várias formas de compor, né? Ser letrista é compor uma letra para uma melodia já existente (que é o tema que estou explorando aqui).
    Também componho tudo junto, coisas próprias e individuais. Mas ultimamente estou bastante empolgado com o exercício de colocar letra em música já existente.
    Mas acho que a maioria dos compositores conseguem transitar entre as formas.

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  3. Era só uma curiosidade mesmo.
    Aguardando o próximo post!

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  4. Tibério, seu lindo!
    Leio seu blog sempre, sempre, pelo GReader e sempre que vc posta no twitter vou correndo ler.
    Adoooooooooooooooooooooooooro (♥)
    Esse texto, em especial, coloquei lá no meu tumblr:

    http://migre.me/3Ua5s

    Fiquei lendo, viajando... Esses dois posts, a primeira parte e esse aqui, me dão uma vontade danada de louca de sair fazendo música loucamente.
    Mas eu só sei escrever prosa... Musica tem que sacar o lance da métrica, encaixar na melodia... acho tão difícil!!!
    Por isso admiro quem faz

    Te admiro, moço!

    Beijos no coração

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